Muitos pais comentam no consultório sobre o “enfraquecimento” dos dentes e a elevada incidência de cárie em seus filhos por conta do uso de medicamentos na infância. Entretanto, eles não estão entre os fatores determinantes para o surgimento de cárie, pois isso é multifatorial e acontece por conta da dissolução do esmalte do dente que permite a entrada de bactérias.
A cavitação do esmalte dental é causada pelo meio ácido que as bactérias presentes na boca produzem ao ficarem no local com restos de alimento e açúcares. Por isso, a cárie pode ser vista também como um problema comportamental de higiene e ligado a fatores socioeconômicos. A qualidade da higiene bucal (escovação e demais cuidados) está intimamente associada a estrutura e dinâmica familiar, bem como seus costumes e hábitos alimentares.
Sabemos que a preocupação com a saúde bucal é muitas vezes deixada de lado porque a condição clínica primária da pessoa com deficiência é mais importante do que aspectos menos perceptíveis da saúde das crianças, como a escovação dentária. Além disso, muitos pais e cuidadores não sabem da presença de açúcares nos remédios e, ao administrar os remédios a noite já na cama, deixam a boca um ambiente açucarado e propício para o crescimento das bactérias. Ou seja, durante todas as horas de sono o esmalte dos dentes ficará exposto até a próxima escovação.
É verdade, entretanto, que alguns medicamentos contêm adição de sacarose (tipo de açúcar) para melhorar o sabor e torná-lo mais palatável e aceitável pelas crianças. E nesse caso, a administração de medicamentos adoçados por períodos prolongados pode aumentar o risco de desenvolvimento de cáries.
A indústria farmacêutica utiliza grande quantidade de açúcares, na formulação de pastilhas, preparações de vitaminas, glóbulos homeopáticos, xaropes de antibióticos e outros porque a sacarose funciona também como conservante, antioxidante, solvente e espessante. Além disso, o sabor doce facilita a terapêutica pediátrica já que o gosto agradável incentiva a criança ou adulto com deficiência a aceitar a medicação.
A melhor forma de auxiliar o seu filho(a) ou paciente sem comprometer a saúde dos dentes é seguir a orientação básica: faça a higiene bucal sempre após ingerir algum alimento ou bebida e remédios açucarados. Tente ajustar os horários de medicação para momentos em que seja possível fazer a higienização oral.
Nesse post dei algumas dicas para fazer a escovação de pessoas com deficiência. Vale a pena conferir e colocar em prática com a orientação de um dentista, fonoaudiólogo e/ou médico que acompanha o caso.