Era uma tarde de sol e todas as crianças estavam na área externa da escola brincando com folhas, pedrinhas e em contato com a natureza. As professoras interagiam com todos e o Martim, meu filho, também estava ali brincando e se divertindo. De repente, ele levantou de onde estava e saiu andando como se aquele movimento fosse a coisa mais natural do mundo, apesar de ter nascido com o Pé Torto Congênito (PTC) e, desde os 15 dias de vida, fazer tratamento para correção da deformidade de seu pé esquerdo.
Na hora as professoras começaram a gritar: "O Martim tá andando. Vamos lá, Martim!". E foi aquela festa. Quando eu cheguei na escola para buscá-lo, uma das professoras me contou com lágrimas nos olhos sobre o grande momento. Eu chorei, claro e nos emocionamos. Foi mágico.
Na noite anterior ele havia arriscado uns passinhos em casa, mas não conseguia deixar de se apoiar ou soltar completamente das nossas mãos. Talvez meu filho não tenha entendido direito o que estava acontecendo, mas um dia vamos contar a ele essa história. Depois de passar por tantos aprendizados, desde pequenininho demonstrando força de gigante, o fato de ele começar a andar nos fez acreditar mais na vida, na medicina e na capacidade de superação do ser humano independentemente de suas limitações.
Quando soubemos, eu e meu marido, que o nosso filho nasceria com o Pé Torto Congênito foi um susto. Nunca tínhamos ouvido falar, nem tínhamos casos na família, amigos ou pessoas próximas que pudessem servir de exemplo pra nós. Foi um choque na verdade! Várias preocupações tomaram conta da gente por meses e, talvez, a maior delas era se o nosso filho ia poder andar e ter uma vida comum.
É claro que eu tive pressa. Queria ter certeza de que ele andaria normalmente, apesar de a médica dizer "Sim, claro. Ele terá uma vida normal". Mas esquecemos que eles têm o tempo deles e é muito diferente do nosso, adultos apressados. As crianças não usam relógio, não têm noção se as férias irão durar dois dias ou um mês. Não sabem quanto custa o doce, nem quantas horas podem ficar na água da banheira, da piscina ou do mar, quantos gessos são necessários para corrigir uma deformidade ou se a cirurgia vai deixar cicatriz ou não. O mundo deles é perfeito, não existe comparações e nem tempo certo disso ou daquilo. Deveríamos aprender isso com eles.
A maternidade atípica tem me ensinado a respeitar o tempo do meu filho, a entender as minhas limitações como mãe, a não pular fases de seu desenvolvimento e nem o comparar com outras crianças que enfrentam desafios semelhantes. Cada criança é diferente, única, o seu desenvolvimento e a maneira como reage ao tratamento também. Não se esqueçam disso!
Meu filho começou a equilibrar o pescoço com aproximadamente três meses e meio. Sentou sem apoio aos oito meses. Engatinhou aos 11 meses e andou com um ano e cinco meses. Falou a primeira palavra aos sete meses. Hoje, com 1 ano e 9 meses, está se desenvolvendo normalmente, começou a correr e a subir e descer de móveis, além de ter uma ótima coordenação motora nos membros superiores. Seguimos com o tratamento pelo método Ponseti, com uso da órtese para dormir (das 20h às 7h).
O seu pé torto esquerdo (corrigido) não o limita em nada. Ele leva uma vida normal, no seu tempo, e é muito feliz!
Martim sentado e sorrindo
Deixo aqui para vocês um vídeo do Martim caminhando pela primeira vez com 1 ano e 5 meses. Espero que essas cenas deem esperança para mães e familiares que estão passando pelo tratamento do PTC.
Até mais!