Hoje eu gostaria de compartilhar uma história de sucesso
que aconteceu aqui no meu estado, na cidade de Cascavel no Paraná, no ano
passado, onde a primeira aluna com tetraplesia decorrente de um AVC (condição
caracterizada por ausência de movimentos nos membros superiores e inferiores), onde
perdeu a fala, porém a sua parte intelectual permaneceu intacta, se formou em
Medicina.
Neste caso, a Universidade “permitiu” e se adaptou para que
a aluna estivesse junto com os demais colegas em sala, com o auxílio da família
e de uma psicopedagoga como facilitadora da comunicação da aluna com os demais
colegas e professores em sala de aula. O acompanhamento das aulas ocorria através
da soletração (comunicação realizada pelo olhar e uma tabela com letras
divididas em cinco grupo).
“No
entanto, é preciso que a legislação sobre acessibilidade da pessoa com
deficiência no ambiente universitário seja mais respeitada, e o atendimento das
especificidades de cada tipo de deficiência sejam implementadas tanto por
instituições públicas como por instituições privadas”. (BORDAS, 2009, p.31)
Este é um exemplo de sucesso de educação inclusiva, de
trabalho em parceria entre a escola, equipe multidisciplinar, família e
sociedade. Conforme BORDAS (2009, p. 36):
“Além
disso, a criação de um laboratório de apoio pedagógico, onde o aluno contasse
com a ajuda de tecnologias e profissionais, tais como: pedagogo, psicólogos,
psicopedagogos, fonoaudiólogos, profissionais da computação entre outros,
disponíveis para criar soluções tecnológicas e pedagógicas para o atendimento
ao estudante”.
Cabe às Universidades reformularem não só a sua metodologia
de ensino, mas também a forma de entrada e aprovação dos alunos (vestibular)
com as mais diversas características físicas e intelectuais. Para BORDAS (2009,
p.32): “Devemos considerar que a Universidade não pode ser indiferente à
diferença”.
Uma prova classificatória exige que todos os alunos
interessados em ingressar na universidade tenham o “mesmo padrão” de
desenvolvimento psicossocial e educacional, distanciando-se cada vez mais da
realidade de uma educação inclusiva.
Mesmo com poucos exemplos de educação inclusiva, as escolas
ainda precisam de políticas de educação e recursos que incluam este tema na
estrutura atual da pauta de educação, além da mudança na mentalidade de
educadores, alunos e sociedade no que diz respeito à educação para as
diferenças.
“Aspectos
como as condições didático-pedagógica de trabalho de professores, comprometida
pela falta de tecnologias de ajuda para operacionalização de um processo de
aprendizagem e inclusão deste aluno de modo pleno, encontram-se entre os
principais obstáculos verificados no referido estudo”. (BORDAS, 2009, p.31)
Outro fator importante é o envolvimento da sociedade, bem
como das organizações de pessoas com dificuldade de aprendizagem na questão da
educação inclusiva. Será que todos estão preparados e tem conhecimento
suficiente, além de preparo psicológico para lidar com a inclusão? Fica o
questionamento de qual é o papel da sociedade para que a educação inclusiva
seja de fato uma realidade presente em todas as escolas.
O aluno com necessidade educativa especial só estará
integrado na escola/universidade se também receber um suporte emocional e
psicológico do seu núcleo familiar. É este núcleo quem vai estimular e ensinar
as habilidades e o comportamento deste aluno em sociedade. É o processo de
aprender que vai desenvolver os alunos nas suas máximas potencialidades,
independente de ter ou não deficiência. Para BORDAS (2009, p. 152): “É nessa
relação mediada pelo adulto que a criança se apropria do patrimônio cultural
acumulado pela sociedade”.
A família pode ser considerada como mediadora entre a
criança e a sociedade. Destaca-se o fato desta interação também ser citada no
artigo da Declaração de Salamanca (1994):
“A
participação da comunidade deve ser capaz de complementar as atividades
realizadas na escola, prestando apoio aos trabalhos de casa e compensando as
carências do apoio familiar. Cabe reconhecer aqui o papel das associações e
movimentos da juventude, assim como o papel potencial dos idosos e outros
voluntários – incluindo as pessoas com deficiência – tanto nos programas
realizados nas escolas como fora deles”.
É no exemplo com a família, em suas
atividades diárias, que o aluno se sente acolhido e se fortalece para os
desafios da escola/universidade e da sociedade.
Referências:
- Após
perder todos os movimentos e a fala em AVC, estudante se forma em Medicina
no Paraná | Oeste e Sudoeste | G1 (globo.com)
- BORDAS, M. A.;
DIAZ, F.; GALVÃO, N. C. S. S.; MIRANDA, T. G.; (ORG). Educação Inclusiva, Deficiência e
Contexto Social: Questões Contemporâneas. Salvador:
EDUFBA, 2009.
- CHAUÍ, Marilena. A
universidade pública sob nova perspectiva. Ver. Bras.
Educ., Rio de Janeiro, nº 24, 2003. Disponível em www.scielo.com.br.
- NUNES, S.S; SAIA,
A.L. e TAVARES, E. Educação Inclusiva: Entre a História, os
Preconceitos, A Escola e a Família. Artigo: Psicologia,
Ciência e Profissão, Brasília, Conselho Federal de Psicologia, 2015.
Disponível em www.scielo.com.br.
- Declaração de Salamanca. Disponível em
https://pnl2027.gov.pt.