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Transtorno do Espectro Autista e a vacinação

Transtorno do Espectro Autista e a vacinação
Karyna Leal Antônio
mai. 27 - 4 min de leitura
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No post anterior (leia aqui) conversamos um pouco sobre características e diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Com esse assunto em pauta, não podemos deixar de comentar sobre a polêmica da vacinação causar autismo e desmistificar alguns conceitos e fatos sobre o assunto.

 

A polêmica da relação entre o autismo e a vacinação começou em 1998, quando o médico Dr. Andrew Jeremy Wakefield publicou um artigo na revista The Lancet.

Nesse estudo, os autores estabelecem a relação entre crianças que receberam uma dose da vacina MMR (sarampo, caxumba e rubéola) e o posterior desenvolvimento do autismo. O estudo causou muita polêmica no mundo científico, pânico e afetou as taxas de vacinação em vários países. No entanto, logo depois foi retratado pela revista, ou seja, perdeu sua validade. Wakefield foi punido pela publicação tendenciosa, perdendo a sua licença de trabalho. A retratação aconteceu pois várias falhas e inconsistências foram encontradas no estudo, e as principais são:

- número muito pequeno de indivíduos no estudo (12 crianças)

- os parâmetros avaliados se baseavam na memória dos pais, sem fundamentos científicos

- o estudo não possui "grupo controle", ou seja, crianças que não foram vacinadas para comparar os resultados

- alguns dados obtidos foram alterados, apagados e inventados

Além desses tópicos, é interessante citar que Wakefield tinha um pedido de patente para uma vacina que seria concorrente direta da MMR. Dessa forma, financeiramente interessante para ele que sua principal concorrente fosse desbancada pelo seu artigo científico.

Resultado de imagem para vacina autismoDr. Wakefield, principal autor do artigo que gerou polêmica sobre vacinação e autismo

 

Nesse artigo, (leia aqui) o Dr. Wakefield apresenta uma tabela que relaciona a vacinação com o tempo necessário para desenvolver autismo. Isso por si só já é o suficiente para derrubar toda a pesquisa, já que uma criança não pode desenvolver o autismo. O transtorno do espectro autista é uma doença congênita, ou seja, a criança nasce assim. O diagnóstico é complexo e pode demorar alguns anos para ser consolidado, mas não significa que a criança não tinha TEA antes de ser diagnosticada. 

Outros estudos foram realizados de forma correta para reavaliar a relação entre vacinação e o TEA. Um dos melhores e mais recentes artigos publicados a respeito reporta uma pesquisa dinamarquesa com 600 mil crianças confirmou que a exposição à vacina não aumenta a prevalência do TEA (leia aqui).

Vale ressaltar que o número de crianças diagnosticadas dentro do TEA realmente aumentou nos últimos anos (gráfico 1). No entanto, esse aumento não tem relação com uma maior taxa de vacinação, mas sim com o maior entendimento da doença, novas tecnologias de diagnóstico precoce e a adaptação da definição do quadro clínico para dentro de um espectro, e não para uma condição específica.

Resultado de imagem para casos de autismoGráfico 1. Prevalência do Transtorno do Espectro Autista nos Estados Unidos de 2004 até 2018 (CDC).

Como um exemplo de como podemos distorcer essas informações, posso colocar aqui um gráfico que relaciona a prevalência do autismo com a venda de produtos orgânicos (gráfico 2). Podemos notar que existe um aumento no número de diagnósticos de TEA que acompanha um crescimento nas vendas de comida orgânica. Ambos os dados são reais, mas isso não prova que exista uma relação de causa entre os dois fatores. E essa é mesma brecha utilizada em outras afirmações sensacionalistas e tendenciosas.

Resultado de imagem para casos de autismoGráfico 2. Prevalência do Transtorno do Espectro Autista e venda de comidas orgânicas nos anos de 1998 até 2007 (CDC, OTA).

 

Mas se não são as vacinas, o que leva uma criança a estar dentro do TEA?

 

Estudos científicos apontam que o TEA é uma patologia multifatorial, ou seja, causada por várias coisas ao mesmo tempo. Dentre as causas estudadas, pode-se citar como mais relevantes:

- causas de origem genética e ambiental

- idade avançada do pai no momento da concepção

- uso de valproato de sódio/ácido valpróico durante a gestação

 

Ainda há muito para caminhar na elucidação de uma doença tão complexa quanto o Transtorno do Espectro Autista. Por enquanto, devemos nos manter informados com fontes confiáveis e lutar para que pesquisas de qualidade continuem sendo feitas em nosso país. Dessa forma, podemos como sociedade oferecer uma melhor qualidade de vida à todas as pessoas que, como o André da Turma da Mônica, estão dentro do espectro e só querem ser incluídos.


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