Conversar com Sueli foi como ouvir Dora vocalizar seus sentimentos. Cada afirmação era como dar voz à minha pequena. E essa é a grande força de sua história.
Ainda é muito difícil decodificar as mensagens de Dora, principalmente por não saber se são voluntárias ou uma sequência de movimentos, provenientes de um espasmo. Ao lado disso, como um cão guia, há a incerteza de como minhas palavras são recebidas por seu interior.
Dora não poderá ter o diário de Sueli como guia. As similaridades entre elas ficam apenas em compartilharem a mesma carta da deficiência no baralho de suas vidas. Carta cuja característica intrínseca é a infinitude de apresentações, das mais sutis às mais explícitas, conferindo singularidade ao conjunto de cartas.
Se uma filha não pode aproveitar as experiências da outra, o mesmo não pode ser dito dos pais. Nessa conversa, eu, pai de Dora, fui o pupilo a ler os vestígios de uma paternidade atípica, de um pai que contou através da vida da filha como a amou e a permitiu florescer.