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Incompetência Ístimo Cervical ou Colo Curto - Leãozinho Leo - Cap.2

Incompetência Ístimo Cervical ou Colo Curto - Leãozinho Leo - Cap.2
Carla Delponte
jul. 20 - 13 min de leitura
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Como contei no outro post, em março/12 após dois abortos, engravidei mais uma vez, desta vez, do Leo. Tomei todos os cuidados necessários e o pré natal estava sendo realizado normalmente.  Aparentemente minha gestação estava normal.  Fui diversas vezes em uma conceituada clínica em São Paulo para realizar exames de rotina e o desenvolvimento do bebê também evoluía bem. Lembro que estava com 17 semanas, recebemos visitas dos meus sogros, passeávamos bastante, mas eu tentava evitar muitas movimentações.

Em alguns momentos de nossos passeios eu senti dores estranhas e acabei não comentando com ninguém porque não aguentava mais chatear a todos com meu histórico. Então eu ía para casa, descansava e tudo voltava ao normal. Tentei evitar caminhar muito, mesmo caminhadas normais.

Estávamos nos preparando para fazer uma viagem longa ao exterior, mas para nossa surpresa tudo deu errado para aquela viagem. Não conseguimos agendar hotel e estávamos há 4 dias do embarque.

E já estava com 19 semanas quando acordei pela manhã e percebi um sangramento. Nada tão desesperador, mas tive receios e fui sozinha até o Hospital Santa Catarina que ouvi dizer ser um dos melhores em SP e próximo da minha antiga residência.

Demorei bastante para ser atendida, e já sentia dores, quando Dr João Bortoletti, médico que virou um dos nossos amigos posteriormente, me chamou para fazer o ultrassom. E então o seguinte diálogo:

Eu: Está tudo bem doutor?

Médico: Querida, aonde você terá seu bebê?

Eu: Em Curitiba doutor, minha família toda mora lá e eu vou precisar de uma certa ajuda nos primeiros dias. 

Médico: Digo aqui em São Paulo, onde você terá seu bebê?

Eu: Dr. meu filho nascerá em Curitiba.

Médico: Você veio sozinha?

Eu: Sim e deixei o carro irregular inclusive porque dei voltas e voltas para encontrar um estacionamento aqui na Av. Paulista e já estava sentindo muitas dores...

Médico: Vou pedir algo muito importante para você. Poderia chamar seu esposo para vir lhe buscar? Vou pedir para você não levantar da maca por nada nesse mundo ok? Descanse um pouco.

Eu: Dr, eu preciso ir ao banheiro, como eu faço?

Médico: Vá até lá, e se precisar pode me chamar, estarei aqui esperando por você. Quando voltar, deite e não levante mais! 

Eu: Não estou entendendo, meu filho está bem? O que está acontecendo?

Médico: Fique calma, seu filho está bem. Mas você tem uma situação delicada no seu colo do útero. Ele é flácido. E se você levantar, seu filho pode escorregar e cair. Seu colo está tão fino que você terá que ficar deitada o resto da gravidez, sem levantar para absolutamente nada. Mesmo banho e necessidades básicas. Inclusive, se alimentar.

Tudo começou a girar, não conseguia imaginar o que havia acontecido. Eu estava com 19 semanas de gestação e ainda tinha muito tempo pela frente. O que foi que eu fiz de errado meu Deus? Eu queria tanto ter filhos que causei tudo isso? Não parava de me culpar até que o Renato, meu esposo, chegou em pânico e sem entender nada.

O médico contou o que havia diagnosticado no exame e que meu estado era preocupante, pois o colo do útero era da espessura de um papel de tão fino. Dr. João nos explicou que isso chamava-se Incompetência Ístimo Cervical. Um pouco de dilatação e corríamos o risco do bebê nascer a qualquer momento. Então, ele nos sugeriu que eu não me levantasse da maca e já ficasse internada no hospital até o final da gravidez.

Eu não conseguia acreditar naquilo tudo. Não tinha ideia como seria organizar a logística para o Renato trabalhar e eu ficar hospitalizada. Fui levada para o quarto e ainda tive que entender que ficaria todo esse período em posição de Trendelemburg: pés mais elevados que a cabeça. O objetivo dessa posição é minimizar os efeitos da gravidade, para que o bebê não pressione o colo do útero e evite o nascimento prematuro. Ou seja, eu literalmente estava deitada em uma rampa, mas com a cabeça na parte de baixo.

Tive que aprender a me alimentar daquele jeito, pois não é permitido erguer nem ao menos a cabeça. Minha mãe veio de Curitiba, ficava manhã e tarde comigo, e meu marido a noite. No outro dia cedo ele saía para trabalhar novamente.

Durante todo esse período eu lembrava muito da minha irmã. Engravidamos com 30 dias de diferença e eu não havia conseguido tirar uma foto com ela. Os dias eram extremamente longos, fazia fisioterapia sem poder me movimentar muito  porque também era perigoso. Tomava injeção de clexane todos os dias para não correr o risco de desenvolver trombofilia e a equipe médica visitava o quarto todos os dias. 

Lembro bem do dia que o Dr. Gustavo chegou no quarto e falou: "Vocês tem que ser fortes, porque hoje vocês estão casados com o hospital e como todo casamento terão momentos bons e ruins." Achei aquilo bem engraçado, mas ele tinha toda razão.

Eu não podia ficar nervosa por nada no mundo, pois segundo os médicos isso adiantava o processo de dilatação do colo do útero. Não podia fazer minhas planilhas de controle financeiro, nada. Eu era proibida de qualquer coisa! Meus familiares não me ligavam, tinham receio que eu ficasse emocionada  e eu só sabia deles pelos meus pais e irmãos com muito cuidado para não ter fortes emoções.

Descobri que havia outra moça como eu internada, a Catarina. Ela estava bem adiantada e a história dela me inspirou. Falávamos todos os dias ao telefone, cada uma deitada em sua cama e em quartos diferentes. Comecei a aprender a ter força ali. Ela me ensinava as estratégias que usava para não enlouquecer, literalmente.

Com ela descobri, por exemplo, que eu poderia pedir algo diferente à equipe de nutrição do Hospital porque já não aguentava aquela comida. E então comecei a ser mimada. As meninas faziam coisas diferentes uma ou duas vezes por semana como pizza e cachorro-quente. Desenvolvi uma técnica espetacular para me alimentar deitada, não poderia mesmo nem levantar a cabeça. E todos os dias eram assim.

Constantemente falava com a Catarina. As enfermeiras até sabiam das nossas brincadeiras. Ela era a única pessoa que entendia minha dor, pois estava na mesma situação. Ela conseguiu levar a gravidez até o final, pois sua médica conseguiu realizar um procedimento de cerclagem, uma espécie de costura do colo do útero, e isso a ajudou a segurar o bebê. Tempos depois soube que ela estava caminhando pelo corredor do hospital, pois no momento em que o bebê precisava nascer o colo do útero não dilatou. A caminhada a ajudaria a entrar em trabalho de parto.

Nunca mais tive contato dela, mas sei que correu tudo bem e aquilo me inspirava.

Tentamos alguns procedimentos para ajudar a segurar por mais tempo a gravidez, mas nenhum era possível no meu caso. Nem cerclagem e nem pessário -  um procedimento novo não-cirúrgico que estava há apenas 6 meses no Brasil. Mesmo assim, não havia espaço para isso. Nada iria ajudar a fechar o colo do meu útero que era muito fino. Também tinha o risco de furar a bolsa que já estava querendo ficar exposta.

Meus dias eram cansativos, mal podia me movimentar, não podia falar com ninguém para não ficar nervosa e mesmo assim eu ficava. A equipe de enfermagem entrava 2x por dia para auscultar o coração do Léo. Pela manhã 2 a 3 técnicas de enfermagem me davam banho, sempre me rolando de um lado para outro da cama, sem se movimentar muito. Elas é que faziam isso para mim.

Chegou o dia dos pais, minha família não aguentou e eu nem sei como fizeram isso, mas enviaram um vídeo maravilhoso para mim. O valor que aquilo teve foi incrível! Nessas horas a revolta vem a tona e você quer só atenção, amor e carinho de quem ama profundamente. E minha família é especial demais para mim. Ver esse vídeo depois de tanto tempo, meu nôno ainda vivo, na torcida, é especial demais.

Cuidado ao abrir, família italiana e barulhenta kkkk.

 

Abaixo, a carta de agradecimento pelo vídeo que eles enviaram, e a importância que tudo isso teve naquele momento. Família é tudo.

"Olá querida família, 

Amei o vídeo com energias positivas. Achei muito lindo e fofo de todos vocês. Saibam que fiquei muito feliz e ainda mais confiante que tudo dará certo, e isso é só pra confirmar que quem tem família nunca esta sozinho, e como o Felipe comentou, a palavra família deveria ser trocada do dicionário por Delponte, achei lindo isso. Claro que cada um de nos temos outras famílias em nossas vidas, que são tão queridas quanto e que amamos do mesmo jeito, mas nossa união eh um exemplo e desejo que sempre sejamos assim. O que senti vendo o video foi só alegria, emoção também, mas de alegria, orgulho!
Pai, sei que queria falar algumas palavras e ficou com medo de me emocionar e acabar me fazendo mal, ainda mais depois de tanta recomendação médica, rsrs, mas quero que saiba que sei o que sente, sinto e sei que faz tudo para me ajudar e sempre esta aí para o que der e vier. Mãe, venha preparada porque nao quero sair desse hospital tão cedo, talvez em outras ocasiões pensaria diferente, mas nessa situação vou fazer de tudo pra ficar!

Família querida, poderia falar muito aqui, mas devido a posição meio morcego, meus braços cansam com facilidade, queria agradecer a cada um, às orações, ás mensagens positivas, as palavras de conforto e carinho. Estamos bem, em uma nova fase, e segundo o que acredito, estou enxergando tudo isso como uma provação, algo que não sei porque tenho que passar e vamos enfrentar. A cabeça muda muito aqui, consigo enxergar e sentir coisas que jamais imaginei e é bem difícil entender se nunca passamos por isso. Tiramos o peso do material, o peso total e focamos na vida apenas. Sei que não vou conseguir tirar fotos, comprar nada pessoalmente para o bebê e isso era um sonho pra mim, e que de uma hora para outra perdeu valor, so importa a saúde do pequeno Leonardo.
O Renato tem me ajudado muito, tirou alguns dias do trabalho pra ficar em tempo integral comigo, me ajuda a comer e até meu cabelo ele aprendeu a escovar, um anjo na minha vida, só tenho a agradecer. O Leo esta pulado mais do que nunca, até converso com ele pra sossegar um pouco e não fazer tanta arte, hoje acho que ele entendeu, ta mais calminho...

O hospital é muito bom, por pura coincidência ou por dedo de Deus, o que eu creio mais, tudo, exatamente tudo nos direcionou para cá e sem sabermos o motivo, descobrimos depois, que estamos em um hospital que é referencia em UEI neonatal e já ganhou prêmios como o melhor do Brasil, então estou me sentindo protegida e fazendo tudo que está em nosso alcance. 
Agora é um dia após o outro, tento nao pensar muito em quanto tempo ficarei aqui, mas conto cada dia como uma vitória, minha médica falou que a cada 1 dia no hospital sao 7 dias a menos do bebê na Uti, então eh dia após dia.

Nôno, adorei ouvir sua voz na torcida para mim e vó Laura, se a família é o que é, é porque vocês nos ensinaram tudo isso. Lembro muito dos ensinamentos de vocês quando era criança e até hoje. Adorei ver a vó Laura insistindo para que falassem alguma coisa e agradeço a todos por terem enviado só alegria, é tudo que precisamos nesse momento. Família linda obrigada a cada um de vocês, simplesmente amei.

Ana, obrigada por tudo, amei muito! Ahhh! sua barriguinha ta linda!!!
Carol, obrigada pelas palavras, sei que vc e o Macelo também estão na torcida e tudo que escrevi eh para vocês também e para todos que nao estavam ali, a família está tão grande que nem sei se caberia todo mundo, kkk. Amo vcs!

Quando quiserem podem ligar, estaremos aqui.
Bjs no coração de todos!!!
Carla"

 

Já leu o capítulo anterior da história do Leãozinho Leo?

Caso queira se inteirar de toda história do Leãozinho Leo, entre no link abaixo:

https://mundoadaptado.com.br/blog/o-preparo-da-grande-mudanca

Ou acompanhe todos os textos da história do Leãozinho Leo aqui:

https://mundoadaptado.com.br/leo/t

 


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