Gardenal pode diminuir a inteligência das crianças?
O fenobarbital (Gardenal®) é uma das medicações antiepilépticas mais antigas e por este motivo uma das mais conhecidas e
estudadas. Sua eficácia é considerada alta quanto ao controle de crises epilépticas.
Nos dias de hoje, ainda permanece como uma das medicações mais utilizadas no tratamento de pessoas com epilepsia em todo o mundo, principalmente nos países subdesenvolvidos e naqueles em desenvolvimento, devido seu baixo custo.
Lembramos que em diversos países do mundo como, por exemplo, no Brasil, o fenobarbital é de distribuição gratuita na rede pública, o que certamente influencia a prescrição médica.
Há muitos anos, os efeitos colaterais do fenobarbital são relatados e amplamente discutidos na literatura mundial. Logo
após o início do tratamento com esta medicação, muitas crianças desenvolvem sinais de sonolência e outras de agitação, o que é um efeito que costuma desaparecer ou regredir consideravelmente após alguns dias ou semanas. Embora seja algo temporariamente incômodo para os pais, este não é um efeito colateral que realmente chegue a causar preocupação aos médicos, pois sabemos ser transitório.
A grande questão envolvendo o fenobarbital é quanto a possibilidade de redução da capacidade cognitiva e intelectual das crianças a longo prazo.
Quer dizer, qual o risco de uma criança que faz uso desta medicação ter sua capacidade intelectual (sua “inteligência”) e outras habilidades reduzidas após alguns anos ou décadas?
Embora muitos estudos tenham tentado responder a esta pergunta, os resultados são conflitantes a este respeito.
Alguns autores utilizam o termo “barbiturismo” (palavra derivada
de “fenobarbital”) para descrever os efeitos colaterais de sonolência, transtornos comportamentais e alterações cognitivas
relacionadas ao uso crônico do fenobarbital.
Evidentemente, a intensidade destes efeitos colaterais varia de um paciente para outro, na dependência de uma série de fatores, alguns relacionados ao próprio paciente, outros relacionados ao esquema de tratamento (como a dose utilizada, os horários de administração e até mesmo a associação com outros fármacos antiepilépticos).
Outro efeito colateral do fenobarbital, este mais observado em adolescentes e adultos, é o desenvolvimento de sinais e sintomas de depressão, que pouco ou nada respondem aos medicamentos antidepressivos.
Embora se trate, indiscutivelmente, de uma medicação bastante eficaz no controle das crises epilépticas, o uso indiscriminado do
fenobarbital vem sendo motivo de preocupação em diversos países
do mundo.
Ressaltamos que nas crianças menores, sobretudo naquelas abaixo de um ano de vida, o fenobarbital permanece como uma
das mais eficazes medicações mais utilizadas em todo o mundo.
Sua indicação precisa (nos tipos de epilepsia sensíveis a esta droga) e por um período de tempo razoável não aumenta o risco de déficits cognitivos e intelectuais de forma permanente.
A indicação de fenobarbital como droga de primeira escolha para tratamento de epilepsia nas crianças maiores, adolescentes
ou mesmo nos adultos é uma conduta questionável nos dias atuais, uma vez que há um grande número de alternativas terapêuticas com menos efeitos colaterais e, muitas vezes, com maior eficácia.
Por outro lado, em nossa experiência pessoal, crianças com epilepsia clinicamente refratária (de difícil controle medicamentoso) podem se beneficiar da associação de fenobarbiral com outros farmacos antiepilépticos.