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Autonomia X dependência: o dilema de pais e cuidadores de crianças com deficiência

Autonomia X dependência: o dilema de pais e cuidadores de crianças com deficiência
Franciela Fernandes
mar. 2 - 4 min de leitura
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Outro dia fomos em uma festinha de aniversário da filha de uma amiga.  A festa era de um ano, tinha espaço kids e baby e monitores para todo lado. Meu filho chegou quieto, desconfiado, mas logo se ambientou e quis desbravar os brinquedos e espaços. Ele estava feliz e nós também.

Enquanto brincava nós monitorávamos cada passo dele. É difícil encontrar o equilíbrio entre permitir a autonomia da criança e ao mesmo tempo evitar que se machuque, principalmente quando seu filho necessita de cuidados especiais. Acho que com o tempo a gente aprenda a lidar melhor com isso.

O Martim usa órtese por 11h durante a noite, para correção de seu Pé Torto Congênito (PTC), e ainda cai bastante quando dá seus passinhos por aí. Por mais que esteja se desenvolvendo bem, andando e correndo, ainda temos certos cuidados quando o assunto são as quedas.

Prestes a completar dois aninhos, nosso pezinho de ouro, como chamamos as crianças que nascem com o pé torto congênito, ainda perde o equilíbrio e de repente se estabaca no chão. Motivo pelo qual estamos sempre a postos, prontos para levantá-lo e estimular que continue seguindo em frente.

Temos consciência de que vai chegar um dia em que ele não precisará mais desse apoio. Se cair, vai levantar. Se machucar, saberá como lidar com a dor. Por enquanto, e enquanto pudermos, estaremos ao lado dele como anjos protetores.

Durante a festa, em um dos espaços, havia carrinhos que imitavam carrinhos de supermercado. As crianças pegavam as embalagens vazias de produtos (caixas de leite, garrafas de plásticos) e simulavam como se estivessem no mercado. O Martim adorou, organizava as embalagens e colocava-as de volta no carrinho, tirava e repunha novamente. E a gente ali, brincando junto com ele.

Estávamos eu, meu marido e dois monitores ali. Os pais deixavam as crianças brincando e socializando enquanto curtiam a festa. Acho o máximo essa autonomia e até mesmo independência das crianças, mas como só havia nós de ‘pais’, quando começamos a brincar, logo as outras crianças nos rodearam e todos queriam brincar da mesma coisa com a gente. Queriam atenção e não era a dos monitores. Queriam olhos nos olhos, falar na mesma direção, segurar nossas mãos e mostrar a grande descoberta do brinquedo legal. Queriam que a gente entrasse no mundo deles. E entramos.  

Muito restaurantes, bares e parques hoje oferecem espaços kids, monitores e uma estrutura perfeita para receber as crianças e trabalhar a autonomia deles. Já fui em locais em que era possível autorizar a entrada, registrar seus dados e deixar a criança livre, leve e solta (sozinha) enquanto os adultos faziam outras coisas.

Por que a presença dos pais é exigida somente quando a criança tem deficiência ou quando tem menos de 2 anos? Até que ponto essa liberdade é sempre boa?

O Martim ainda é pequeno, requer atenção e cuidados especiais que, para ele, não são limitações. Para nós, a atenção deve existir sempre. Acho importante e sou a favor da autonomia e independência dos filhos, mas não deixe de fazer parte do mundo deles!

Participe, brinque, ouça, converse, corrija, imponha limites, seja o super-herói. É brincando que a criança se preparada para a vida, assimila e se integra à sua cultura, cria representações do cotidiano para compreendê-lo melhor, elabora situações parecidas com as que vive e aprende a lidar com os sentimentos, além de desenvolver a linguagem oral, a interação e a convivência social.

E nós, adultos, pais e cuidadores temos a responsabilidade, e o prazer, de fazer parte deste processo. Então, não fiquem triste ou se sintam "os únicos pais" que precisam estar ali enquanto TODOS os outros aproveitam a festa. Aproveite a possibilidade de interagir com seu filho e "assistir" ele descobrindo o mundo, interagindo com outras crianças e adultos.

 


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