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As barreiras que criamos sem perceber e a simplicidade das crianças

As barreiras que criamos sem perceber e a simplicidade das crianças
ORNELLA BEATRIZ DI LULLO
jul. 18 - 4 min de leitura
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É evidente que a maioria dos adultos não está preparado para lidar com crianças especiais. Não sabemos usar o vocabulário correto, sentimos diversas inseguranças e, muitas vezes, as nossas reações são de repelir ou ignorar uma série de situações pela própria ignorância de não saber como agir.

A boa notícia é que geralmente o cenário desse contexto muda quando passamos por alguma experiência marcante que nos coloca defronte a nossas próprias barreiras. Isso também aconteceu comigo.

Trabalho como educadora voluntária numa ONG há mais de sete anos e nessa jornada tenho o grato prazer de aprender muito, muito mesmo, com as próprias crianças e jovens. E é por isso que vou relatar uma história que me marcou muito e que acima de tudo me ensinou a ser uma pessoa melhor.

Num determinado dia, no Grupo Escoteiro Pedra Branca 23ºSC (ONG na qual atuo), recebemos uma nova garotinha de seis anos de idade, muito empolgada para seu primeiro dia de atividades escoteiras. Em seu rosto uma mistura de expressões: curiosidade, alegria e uma certa insegurança normal para a sua idade. Até então, nada de diferente. Já que esse é o contexto normal, que se repete sábado após sábado na chegada de membros novos à entidade.

A diferença estava que a menina recém chegada ao grupo é cadeirante.

Muitos adultos, inclusive eu, nunca tivemos contato com uma criança com necessidades especiais. Mas é claro que todos somos educados, inclusive na formação escoteira, a incluir, a respeitar as diferenças, a acolher a todos... Mas e na prática? Será que todos estávamos prontos para trabalhar da forma correta com aquele novo membro? Ou ainda, será que a sede do Grupo Escoteiro estava pronta do ponto de vista de sua infraestrutura para poder acolher aquele novo membro?

Pois bem, não estávamos.

As atividades se iniciaram e todos os jogos que estavam pensados para aquela tarde de aprendizado não estavam preparados para incluir a nova integrante. Lembro-me bem que aquele sentimento me incomodou muito, pois afinal era eu o ADULTO que estava ali aplicando as atividades EDUCATIVAS para aquele grupo de crianças que tinham de seis a dez anos de idade. Que exemplo iria dar a elas?

Criatividade para adaptar as atividades nunca foi um problema pra mim. É uma prática comum no meu trabalho ter que adaptar os jogos e as atividades programadas diante a falta de algum material, número de crianças não previsto ou até mesmo por questões climáticas. E isso foi o que mais me surpreendeu, pois diante daquele contexto eu não sabia o que fazer. Não sabia como adaptar, como incluir a todos.

Tudo isso aconteceu em poucos segundos. E foi num mesmo instante que tive a melhor ideia possível! Formei um círculo com todas as crianças e iniciamos uma breve rodada de apresentações. Na sequência perguntei a elas que jogo gostariam de fazer naquela tarde. Prontamente choveram ideias de atividades que já tinham sido aplicadas em outras ocasiões. Entre todos escolhemos uma e aquela criança que tinha sugerido a ideia foi a que relembrou e ensinou a todos as regras do jogo.

Essa mesma criança, ao explicar o jogo, incluiu facilmente (sem medo, sem insegurança, sem nenhum tipo de restrição, preconceito ou qualquer coisa semelhante) a nova integrante cadeirante.
Para minha grata surpresa não só a incluiu, mas a tornou protagonista da atividade.

Esse dia aprendi que muitas vezes nós adultos criamos barreiras e que às vezes a única coisa que precisamos fazer é ter o mesmo olhar de uma criança.

No final da atividade retomamos o círculo, avaliamos a tarde e todos contaram qual tinha sido o aprendizado obtido. Eu me emocionei.


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