Para iniciarmos esta reflexão a saúde mental das mães
cuidadoras de crianças/adultos com deficiência, vamos voltar um pouco no
período que antecede ao diagnóstico.
Sim, nós mães idealizamos nossos filhos mesmo antes do nascimento, e essa idealização é construída com muitos padrões impostos pela sociedade, que vão desde a aparência física, intelecto, carreira, orientação sexual, futuras conquistas, realizações e o lugar do futuro bebê dentro da família e da sociedade.
Para AMIRALIAN (1986), a decisão de ter um filho está diretamente relacionada com a realização dos desejos dos pais, das suas necessidades, gratificações e recompensas que a criança poderá lhe trazer. E isso é errado? De forma alguma! Faz parte do maternar querer o melhor para o seu filho, desejar que ele ou ela sejam pessoas perfeitas e “entregar” a melhor pessoa para a sociedade, porém, vamos pensar que o mundo possui 8,04 bilhões de pessoas (de acordo com estimativas de órgãos demográficos em julho/2023) com qualidades, defeitos, particularidades, desejos, sonhos, corpos e mentes diferentes! Perfeitos? Ninguém!
Em resumo, o lugar da criança na família e na sociedade é
resultado da expectativa dos pais.
Assim que a mãe recebe o diagnóstico de que o seu bebê não
será aquele bebê idealizado, é como se um buraco abrisse no chão, onde nada
mais faz sentido, e vamos fazer aqui um parênteses quanto a forma que muitos
profissionais da saúde dão a notícia sobre o quadro clínico do bebê, com total
falta de empatia e acolhimento, onde os pais e familiares ficam apavorados e desorientados
quanto ao que e como fazer para lidar com a surpresa de um diagnóstico que não
era o idealizado por eles, pela família e pela sociedade. Para OMOTE (1980) a
falta de assistência às famílias de deficientes, nos períodos críticos, como
imediatamente após a revelação do diagnóstico, pode levar as famílias a um
sofrimento desnecessário e prolongado, levando ao surgimento de novas
dificuldades no interior da família.
Alguns projetos e expectativas são desfeitos por conta da
nova realidade, e a aceitação de um filho com deficiência exige uma
reorganização dos valores e objetivos da família (AMIRALIAN, 1986).
Vale ressaltar, conforme OMOTE (2022) que a família é o
grupo social primário que representa um importante papel no desenvolvimento da
pessoa com deficiência. Outro fator que deve ser considerado, é que a família
sofre um profundo efeito da existência de uma criança com deficiência,
levando-os muitas vezes a uma experiência de tensão psicológica e ao
desajustamento pessoal e social.
Agora vamos fazer um recorte com foco na mãe. Após o
diagnóstico, a mãe vai lidar com o sentimento de luto pela “perda” do filho
perfeito e idealizado. Surgem sentimentos como culpa, raiva, negação e que
devem ser vivenciados por esta mãe e por toda a família que está vivendo este
momento.
Ela sente o peso maior deste diagnóstico, além de lidar com
a frustação e sentimento de despreparo para lidar com a situação, ela precisa ser
forte para seguir em frente pelo seu (a) filho (a). Nesse conflito de sentimentos,
muitas mães desenvolvem quadros de depressão e ansiedade.
Um estudo comparativo de características das mães de crianças
com deficiência, comparadas às de filhos típicos ("normais"), possuíam muito mais
sentimento depressivo, preocupação com a criança e dificuldade de lidar com a
birra da criança; ligeiramente mais possessividade e negligência; e muito menos
sentimento de competência materna e satisfação com a criança afetada (CUMMINGS;
BAYLEY; RIE, 1996). Esse quadro sugere uma experiência de tensão psicológica e
frustração que as mães de crianças com deficiência vivenciam.
São mães totalmente dedicadas ao cuidado da criança com deficiência e que acabam por não cuidarem de si mesmas, pois também fazem o papel de médicas, enfermeiras, fisioterapeutas, psicólogas, entre outros, quando do cuidado diário com seu filho. Por isso, as mães também precisam de cuidado, para que a sua rotina diária seja mais leve, sem o peso da culpa e julgamentos externos e principalmente internos.
Este autocuidado vai desde a
possibilidade de relaxar durante um banho mais demorado, ir para a academia ou
para a terapia, tomar um café com as amigas, buscar conhecimento sobre a
deficiência ou curtir alguns momentos do dia com a sua própria companhia.
Se você é esta mãe, conte com a sua rede de apoio para que
possa desfrutar de momentos mais leves na sua rotina, priorizando o autocuidado.
Não deixe de procurar ajuda se sentir que a pressão do dia a dia está maior
do que pode suportar, o corpo dá sinais quando a mente está sobrecarregada.
Fique atenta a você, aos seus sentimentos, dores físicas e emocionais, seja
amável com você.
Agora, se você conhece uma mãe que precisa desse acolhimento, aproveite para fazer parte da rede de apoio desta mãe e ajude cedendo algumas horas do seu dia ou da sua semana para cuidar desta criança e liberar esta mãe para que ela respire um ar diferente e tenha um pouco mais de saúde mental para enfrentar os desafios diários de ser mãe de uma criança com deficiência.
Referências Bibliográficas:
1. AMARILIAN,
M.L.T.M. Psicologia do Excepcional.
São Paulo: EPU, 1986.
2. OMOTE,
S.; CABRAL L.S.A.; (ORG). Família e
Deficiência. São Paulo: EDESP-UFSCar, 2022.
3. Artigo: Pais, filhos e deficiência: estudos sobre as relações familiares. FIAMENGHI JR, G.A.; MESSA, A.A. Disponível em: https://www.scielo.br/j/pcp/a/G88kn76nWhwGZrCddBgkTMF/?lang=pt