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A importância da leitura para alunos com autismo: Um novo olhar para todos

A importância da leitura para alunos com autismo: Um novo olhar para todos
Maria de Lourdes  de Moraes Pezzuol
nov. 17 - 9 min de leitura
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Enquanto professora especialista para alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Atendimento Educacional Especializado (AEE) na rede pública do estado de São Paulo, procuro realizar constantes formações para ampliar e aprimorar novas metodologias diversificadas e alternativas para trabalhar com os alunos.  

Gostaria de relatar uma experiência pedagógica de prática de leitura e contextualização para fortalecer a fluência leitora de forma compartilhada, lúdica, exploratória, interpretativa, critica, criativa e interativa, ajustadas às necessidades individuais de aprendizagem de cada aluno com TEA, e que pode ser aplicada a todos os alunos sem exceção.

"A leitura de um texto requer conhecimento de seu propósito por parte dos alunos, já que fluência também tem a ver com a intenção da leitura: para que ler, quais estratégias poderão ser utilizadas e o que se espera ao final. E é importante expor aos alunos esses propósitos em cada atividade. É necessário um trabalho que o ajude a ir além da leitura "palavra a palavra" ou "sílaba a sílaba" para buscar outros meios de identificação que permitam tornar a leitura mais fluente, utilizando paralelamente os processos de decifração e compreensão”. (Revista Nova Escola, 2013)

Enquanto educadora é muito triste identificar que:

“O Brasil perdeu, nos últimos quatro anos, mais de 4,6 milhões de leitores, segundo dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. De 2015 para 2019, a porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%. Já os não leitores, ou seja, brasileiros com mais de 5 anos que não leram nenhum livro, nem mesmo em parte, nos últimos três meses, representam 48% da população, o equivalente a cerca de 93 milhões de um total de 193 milhões de brasileiros”.  (Fonte: Agencia Brasil 2020)

Destacamos assim, a importância de estabelecer mecanismos que facilitem o estudo e o aprendizado, principalmente o da alfabetização e leitura adaptando o ensino para as necessidades cognitivas de cada aluno, assim como eliminar a ideia de um único método de ensino, no identificar que cada aluno possui um ritmo próprio.

“Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e escrita), corporal, visual, sonora e digital –, bem como conhecimentos das linguagens artística, matemática e científica, para se expressar e partilhar informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e produzir sentidos que levem ao entendimento mútuo”. (BNCC, p.10)

Esse relato tem como base de estudo e aplicabilidade a formação realizada nos cursos oferecidos pela Política Nacional de Alfabetização e do programa Tempo de Aprender e ABC – Alfabetização Baseada na Ciência, tem o objetivo de contribuir para a formação continuada dos profissionais da educação brasileiros que atuam na área de alfabetização (MEC, CAPES,2021).

A proposta do Programa Nacional de Alfabetização é apresentar aos professores que as atividades (...) “seguem uma lógica de progressão gradual, partindo daquelas voltadas à consciência fonológica, até chegar ao ensino explícito e sistemático tanto das relações entre grafemas e fonemas quanto das regras do código ortográfico, para que os alunos consigam ler com autonomia palavras simples e complexas.”

Segundo o programa de formação (MEC, CAPES, 2021) “A intervenção precoce na promoção das competências pré-leitoras e leitoras deve ter objetivos ambiciosos prevenindo dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita com base nos mais fortes preditores de dificuldades, designadamente, a consciência fonêmica e o conhecimento das relações letra-som”.

Estratégias pedagógicas para fortalecer a fluência leitora baseada em uma concepção para todos que pode ser pautada as diversas habilidades e competências propostas pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) de forma diversificada, como uma proposta essencial para direcionar a prática pedagógica inclusiva, não seriada e nem diferente.

Segundo (Jolibert, 2006 p.180) “TODAS as crianças são capazes de aprender a ler e a escrever, e de fazê-lo com prazer...”

Uma proposta inclusiva que tenha como foco o desenvolvimento crítico e intelectual, o estimulo do imaginário e da criatividade das crianças para prática de leitura e o seu empoderamento como alunos ativos. 

A seguir gostaria de compartilhar algumas estratégias metodológicas que estou utilizando e adaptando para fortalecer a fluência leitora dos alunos. Proposta pedagógica que inclui: variedade de livros da literatura infantil e juvenil, uso do caderno meia pauta (adaptação de um caderno de desenho), onde é separado metade da folha do caderno com linhas e outra em branco, essa adaptação oferece ao aluno utilizar os dois espaços de forma diversificada. A ideia é que esses espaços sejam livremente aproveitados pelo aluno e que, usando-os, ele vá percebendo que uma história pode ser contada com palavras e imagens.

Com auxilio das tecnologias, no “Google Forms” onde o professor e os alunos podem produzir e enviar por e-mail ou link questões discursivas para interpretação e contextualização sobre o livro abordado. Com o Google Forms você pode criar várias atividades colaborativas.

     Aluno A :  Interpretação e contextualização do livro: “A vida dos tubarões e das raias” 

Outro exemplo do uso de recurso tecnológico a utilização do (Jamboard) adaptado como recurso pedagógico, é um modelo de quadro branco (frames) onde conseguimos interagir com conteúdo temático que pretendemos abordar. Utilizando esse recurso tecnológico os alunos criam um modelo de mapa conceitual com o objetivo de organizar as informações da história, por meio da identificação da ficha técnica do livro, no identificar palavras e imagens e escrever frases lidas para fortalecer e ampliar pensamento criativo e visual. Será apresentando também, alguns exemplos do uso do caderno meia pauta.

Aluno B:  

                               Livro: A abelha (Autora: Ligia Ricetto)

 

Aluno C:             Aluno D: 


Aluno E e F:

Aluno G: 

Alunos criando material e apresentando a história do livro no formato de teatro de fantoche 

                                      Livro: A ponte (Autor: Heinz Janisch)

Aluno H : 

                              Livro: A Quarta feira de Jhonas ( Socorro Acioli)

Das estratégias de leitura que estão sendo aplicadas:

- Leitura compartilhada ou colaborativa: (esse tipo de leitura possibilita a integração, pais, professores e amigos, em casa, na escola. É um processo de ler junto um texto e expor as ideias ou as interpretações sobre o que foi lido, podendo explorar os símbolos das palavras, as imagens de forma a incentivar os alunos, principalmente aqueles que apresentam mais dificuldades a atribuírem sentido as palavras, podendo também utilizar pequenas perguntas sobre as histórias em relação aos comportamentos ou sentimentos dos personagens.

- Leitura exploratória: (aquela que você faz investigando o que há de principal no texto, para explorar outras ideias a partir desse entendimento)

- Leitura analítica ou interpretativa: (aquela que podemos ampliar o conhecimento de mundo, e a parte linguística do contexto (relacionada a gramática) 

- Leitura Crítica: (Propor aos alunos compreender e interpretar a intenção do texto no diferenciar a intenção do autor em relação ao que o leitor tem de crítica, no analisar, concordar, relacionar, sugerir etc.)

- Criação e apresentação de teatro de fantoche com objetivos de fortalecer a narrativa, promover o gosto e hábito à leitura ao desenvolvimento da imaginação, da capacidade de escuta e dar sequência lógica aos fatos, e ampliação do vocabulário.

Sendo assim, vale lembrar que essa proposta de leitura está sendo aplicada para os alunos com autismo do Atendimento Educacional Especializado (AEE) da escola estadual Maestro Antonio Marmora Filho, cidade de Mogi das Cruzes, S.P. Alunos que dentro de seus perfis com TEA, possuem níveis variados de aprendizagens, mas todos conseguem interagir e desenvolver a proposta com interesse e muita criatividade. Proposta que utiliza vários recursos para incentivar a leitura para fortalecer a consciência fonêmica e o conhecimento das relações letra-som, por meio da interpretação com propósitos de somar ao uso de recursos tecnológicos que auxiliam a tornar a aprendizagem mais interativa, lúdica e também muito atrativa.

Precisamos entender que não adianta apenas a permanência física desses alunos junto aos demais educandos na escola, mas necessita urgentemente de representar a ousadia de rever concepções e quebra de paradigmas, bem como desenvolver o potencial desses alunos, respeitando suas particularidades e ritmos para aprender.

Referências

ABC na Prática: Construindo Alicerces para a Leitura / Ana Sucena... [et al.] ; organizado por Ana Sucena, Carlos Francisco de Paula Nadalim. – Brasília : Ministério da Educação (MEC) ; Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), 2021.

A importância da leitura em sala de aula para a fluência leitora https://novaescola.org.br/conteudo/136/a-importancia-da-leitura-em-sala-de-aula-para-a-fluencia-leitora

Base Nacional Comum Curricular (BNCC) http://basenacionalcomum.mec.gov.br/

Brasil perde 4,6 milhões de leitores em quatro anos     https://agenciabrasil.ebc.com.br/educacao/noticia/2020-09/brasil-perde-46-milhoes-de-leitores-em-quatro-anos

JOLIBERT, Jossette. et al. Além dos muros da escola: a escrita como ponte entre alunos e comunidade. Porto Alegre: Artmed, 2006.

Jamboard) . (https://chrome.google.com/webstore/detail/jamboard/ihacalceahhliihnhclmjjghadnhhnoc?hl=pt-BR)

Mapa conceitual  https://www.significados.com.br/mapa-conceitual/

 


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