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Toxina Botulínica na Paralisia Cerebral

Toxina Botulínica na Paralisia Cerebral
Guilherme Maretti
jan. 30 - 5 min de leitura
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A Paralisia Cerebral (PC), melhor conhecida como Encefalopatia Crônica Não-Progressiva, descreve um grupo de desordens do desenvolvimento e da postura, acarretando atraso do desenvolvimento neuro-psicomotor. São atribuídas a distúrbios não progressivos que ocorrem no cérebro em desenvolvimento.

As desordens motoras podem ser acompanhadas de alterações cognitivas (retardo mental), comunicação e comportamento. Algumas vezes até acompanhadas de crises convulsivas. A incidência da PC gira em torno de 2-3 por 1000 nascidos vivos. As crianças mais propensas são as de extremo baixo peso e prematuras, daí o importante papel de um pré-natal bem feito.
As causas são as mais diversas, sendo a mais comum a hipóxia (falta de oxigênio) cerebral durante o trabalho de parto. Malformações, tumores, traumas e infecções também são causas possíveis.

É importante deixar claro que a Paralisia Cerebral não é uma doença! A PC ocorre em crianças que sofreram lesões cerebrais não progressivas (ou seja, lesões que não vão piorar e nem desaparecer com o tempo) antes dos 2 anos de idade e que, com isso, desenvolvem manifestações clínicas muito variáveis, dependendo da área cerebral afetada. O tipo mais comum de PC é o Espástico. 

O tipo Espástico ocorre por lesão do córtex motor do cérebro, região que comanda primariamente os movimentos. Nesse tipo, os músculos têm, ao mesmo tempo, a força diminuída e o tônus aumentado. Tal alteração é chamada espasticidade. Os pacientes apresentam os músculos enrijecidos, sendo difícil fazer o movimento tanto pelo próprio paciente (ativo) como por outra pessoa (passivo). Os músculos mais tensos crescem menos, e por isso, as crianças, com o tempo, podem desenvolver encurtamentos musculares, conhecidos como contraturas.

O crescimento dos ossos, influenciado pela tensão dos músculos, também pode ser alterado, evoluindo para as deformidades, até ocorrer luxações articulares (no caso da PC podem ser muito dolorosas). Além disso, o desenvolvimento motor, a aquisição das atividades motoras como sentar, engatinhar e andar, é atrasado de forma leve, moderada ou grave.

O tipo espástico pode ser subdividido em: Tetraparético, Diparético e Hemipáretico. Isso depende de quais membros estão afetados. Atualmente utilizamos o Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (em inglês GMFCS) para direcionar o tratamento ortopédico.

O diagnóstico de PC é clínico! Não existe nenhum exame complementar que faça o diagnóstico de PC. Como o próprio nome diz, os exames de laboratório ou de imagem são complementares, e são pedidos pelo médico para ajudar a compreender melhor o quadro clínico de cada criança.

O tratamento com toxina botulínica tem hoje, no meio científico, nível 1-A de evidência. Ou seja, o mais alto nível de comprovação científica mundial. Assim sendo, é possível oferecer o tratamento aos pacientes com PC que se encaixam nos critérios para uso da toxina. O Sistema Único de Saúde e os planos de saúde oferecem o tratamento.

Os pacientes que se beneficiam, e muito, com essa forma de terapia são aqueles que apresentam contraturas musculares dinâmicas. Ou seja, naquelas contraturas que, de forma passiva, podem ser temporariamente corrigidas; aquelas contraturas que são flexíveis. As contraturas mais comuns são a marcha em equino (contratura do tríceps sural), marcha em tesoura (contratura dos adutores) e contratura em flexão dos quadris e joelhos. Obviamente uma boa anamnese e exame físico minucioso devem ser realizados por um profissional especialista. 

No tratamento com toxina botulínica, a aplicação é feita através de injeções dadas diretamente nos músculos afetados, o que garante um efeito mais localizado e rápido. As doses e pontos de aplicação seguem protocolos predefinidos. O objetivo é usar a menor dose possível para se atingir o relaxamento esperado. Devemos lembrar que, por ser uma toxina, o sistema imunológico da criança irá, aos poucos, criar resistência (anticorpos). Por isso o tratamento com a toxina não é para sempre, não é possível a sua utilização a muito longo prazo.

A toxina botulínica é uma substância produzida por uma bactéria chamada Clostridium botulinum, purificada em laboratório. Ela age bloqueando a passagem do impulso nervoso para o músculo e, por isso, leva ao relaxamento muscular.
O tratamento com toxina botulínica, portanto, não só é altamente benéfico para um efeito de curto prazo de alívio e bem-estar para a criança, como também prepara o terreno para que as manobras de fisioterapia e colocação de órteses sejam feitas com mais tranquilidade; visando resultados de médio e longo prazo, auxiliando no desenvolvimento do paciente. Consegue-se postergar procedimentos cirúrgicos e, até mesmo, evitar que as crianças evoluam com graus mais graves de contraturas musculares ou luxações articulares.

Ao falarmos de tratamento com toxina botulínica, estamos falando, consequentemente, tanto de um ganho imediato de qualidade de vida, quanto da abertura de grandes perspectivas de desenvolvimento para as próximas etapas da vida das crianças.

Meu nome é Guilherme Maretti, sou Ortopedista Pediátrico e espero ter ajudado a todos que, diariamente, também enfrentam essa batalha em suas vidas.

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