Pouco se fala sobre os irmãos de crianças com necessidades especiais, porém já existem pesquisas que abordam as estruturas psicológicas, emocionais e sociais desses irmãos, com o objetivo de auxiliar esta relação com um olhar multiprofissional e mais humano.
Alguns estudos relatam que a falta de informação sobre a condição da criança com necessidade especial pode afetar no desenvolvimento e adaptação de todos os familiares impactados na nova condição. Faz-se necessário mostrar a realidade para o irmão através de exemplos, vivências, explicações e esclarecimentos quanto as dúvidas e a real condição da criança com necessidade especial, bem como o papel de cada integrante da família na forma de conduzir e lidar com novos os desafios, pois os sentimentos de todos e a dinâmica familiar são alterados.
Diversos autores citam que um dos principais aspectos presentes no dia a dia e no desenvolvimento dos irmãos mais velhos ou mais novos, é o amadurecimento precoce e um alto nível de independência se comparado as outras crianças da mesma faixa etária, podendo ser considerado um fator de risco ao desenvolvimento infantil.
Alguns pontos que devem ser observados no irmão e acompanhados pelos pais e familiares são: excesso de responsabilidades, busca por maturidade, competências não condizentes com a idade, a maturidade da criança ou adolescente, desejo oculto de curar o irmão e a renúncia da própria vida como forma de “recompensar” os pais pelos sacrifícios gerados pelo filho (a) com necessidades especiais. Crianças e adolescentes precisam se desenvolver de forma sadia, sem o peso de responsabilidades ou culpas que não são suas.
Sentimentos como: medo, angústia, confusão, solidão, rejeição, vulnerabilidade, isolamento e carência dos pais são potencializados e geram maiores níveis de estresse infantil em crianças que possuem irmãos com necessidades especiais. Cabe aos pais, dentro do contexto familiar, ficarem atentos aos comportamentos e sentimentos desse irmão, pois muitas vezes o sofrimento ocorre de forma velada, ou através de comportamentos atípicos, onde os pais podem achar ser um comportamento ou sentimento “temporário”, porém este comportamento/sentimento pode crescer e tomar outras proporções ao longo do tempo.
Outro fator citado nas pesquisas é o fato de os pais deixarem os irmãos sozinhos na função de “cuidador”. Importante que os pais e familiares avaliem a maturidade desse irmão, pois ele não vai dizer não para esta função na ânsia de ajudar os pais, porém o peso da responsabilidade pode causar um sofrimento calado.
Não podemos esquecer das características positivas que surgem nos irmãos decorrentes desta relação e convivência com a deficiência: sentimentos de autoestima, suporte social, proteção, empatia, cuidado, tolerância, resiliência, autonomia, aceitar as diferenças e o brincar adaptado à condição do irmão.
É muito importante a inclusão desse irmão no cuidado e nas atividades diárias do irmão com deficiência, participando das rotinas como a alimentação, o banho, a troca de fraldas, a mamadeira, de forma leve e sem o peso de uma responsabilidade que não é sua e sim dos pais e familiares. A relação entre irmãos é muito importante para desenvolver a parceria e a cumplicidade entre eles, fundamental para uma relação sadia, onde um completa o outro e ambos se desenvolvem conforme as suas habilidades e limitações.
Vamos cuidar com amor e carinho dos irmãos, deixando sempre a porta aberta para o diálogo, a compreensão, a empatia e o respeito no ambiente familiar.
Referências:
YAMASHIRO, J.A., MATSUKURA, T.S. Irmãos mais velhos de crianças. Ver. Ter. Ocup. Univ. SP, 2013 mai/ago 24 (2), 87-94.
Criança/adolescente no cuidado ao irmão com deficiência no mundo da família: https://doi.org/10.1590/1983-1447.2021.20200153 acesso em 28/12/2023.