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Quando nasce o inusitado - Sobre o nascimento de filhos com deficiência

Quando nasce o inusitado - Sobre o nascimento de filhos com deficiência
Flávia Moreira
jul. 30 - 4 min de leitura
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A gestação é considerada por muitos um momento mágico. Um período que desperta um misto de sensações e sentimentos, uma fase em que medos e inseguranças, que podem tomar conta inicialmente, dão espaço ao encorajamento e à idealizações construídas ao longo de todo o processo.


Essa criação de "o momento mágico" pode estar relacionada à uma série de questões, dentre as quais, a sensação de plenitude (de sentir-se completo), a sensação de continuidade (junto com quem você escolheu para viver essa história), de extensão (da família, de um amor).  Diante de tantas sensações, muitas mulheres sentem-se mais bonitas e fortes mesmo diante da mudança corporal e da fragilidade emocional que também faz parte de todo o processo gestacional.


Isso acontece também com as mamães que não planejaram a gravidez. É comum vermos que ao longo do processo a aceitação vai ganhando espaço e "aquele serzinho", ainda tão pequeno e oculto, ganha uma importância gigantesca e tudo acaba se voltando aos cuidados necessários para conduzir, da melhor maneira, a espera pelo maior prêmio: o filho idealizado.

Mesmo experimentando fases de medos e fantasias, raramente se imagina que algo dará errado. A nossa tendência é imaginar tudo ocorrendo perfeitamente dentro do esperado.  Em nossa imaginação, construímos desde o enxoval até a perspectiva do futuro mais promissor, em que não há espaço para o inesperado, para o nascimento de filho com algum problema de saúde ou deficiência. Mas e quando isso acontece?


Nessa fase o sonho do filho idealizado  é desconstruído pelo "desconhecido", o "diferente" que traz consigo o receio, o medo, a negação, a angústia, a impotência e uma enorme dificuldade no enfrentamento da questão. "Morre" simbolicamente o filho idealizado e vive-se o luto pela perda de tudo que já estava planejado.

Nossa sociedade ainda tem a expectativa de que a mãe seja forte e enfrente a situação da melhor maneira possível. Essa postura que é esperada da mulher,  a impede de chorar e elaborar a sua dor, mostrar sua fragilidade diante da "perda" de um filho que permanece ali, porém, não da maneira sonhada. Essa expectativa equivocada dificulta a compreensão das pessoas quanto ao real sentimento da mãe.

A obrigatoriedade de trazer ao mundo um filho "perfeito", que se enquadre nos padrões aceitáveis, potencializa essa angústia e essa dor. O apoio familiar é crucial e indispensável, é um momento de muitos questionamentos,  dúvidas, culpas, incertezas, frustrações, arrependimentos e negação. 

Pode ser muito positivo para esta mulher, e família como um todo, que a equipe multidisciplinar preste esclarecimento sobre todo o contexto que envolve a saúde da criança e ofereça como opção o apoio psicológico a essa mãe para fortalecer seu emocional.

Sem o apoio necessário é possível que essa mãe entre em um quadro de adoecimento, o que dificultaria ainda mais o enfrentamento de uma situação que exige muito de todos os envolvidos. Todos! Ressalto aqui essa palavra para lembrar que geralmente a carga maior é atribuída à mãe que muitas vezes sente-se desamparada e arca com a maior parte das atividades de cuidado.

Com a atenção necessária, mesmo em meio às adversidades, é possível que a família ressignifique tudo à sua volta e vivencie o fenômeno do fortalecimento em que encontra-se motivos para transformar vulnerabilidades em potencialidades!

É possível compreender e aceitar as limitações reais do seu filho reconhecendo a importância de cada avanço, por mínimo que possa parecer. É possível que esse filho, independente de sua deficiência, assuma um lugar que dará sentido à sua vida de uma forma, antes, inimaginável.

Procure ajuda quando necessário. É importante cuidar de quem cuida!

 

Crédito da foto: Free Pik


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