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Quando a mãe adoece

Quando a mãe adoece
Franciela Fernandes
mar. 20 - 4 min de leitura
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Quando a mãe adoece tudo fica estranho, esquisito, sem cor. A casa fica mais silenciosa, não se escuta os barulhos da louça sendo lavada, da máquina de lavar funcionando quase que diariamente, da vassoura percorrendo o chão, ou da voz pedindo para recolher brinquedos, avisando que é hora do banho, de jantar, escovar os dentes, colocar a órtese ou da música para dormir.


Quando a mãe adoece a prioridade é ela, a saúde dela, a pausa que ela precisa para compreender o que houve, em que momento o trem descarrilou, e o que deve fazer para colocar novamente nos trilhos. É aquele momento de contar com a rede de apoio (quando ela existe, claro!). Também hora de delegar a alguém as suas responsabilidades, que até então tinha pleno controle delas. E confiar que tudo sairá do jeito que sair, porque você não tem absolutamente controle de nada.

Para as mães que têm dificuldades em pedir ou aceitar ajuda, adoecer não está nos planos, mas, quando isso acontece, passar o bastão deixa de ser opção e se torna necessidade, em especial quando o assunto é filho e seus tratamentos. Nessa ajuda vale pedir para os familiares, amigos, vizinhos, alguém da sua confiança.


Me recordo de quando tive Covid-19, em agosto de 2021, e permaneci isolada em um quarto durante 15 dias. Foi um período intenso, pedi ajuda da minha mãe para cozinhar e trazer comida para o meu marido e meu filho, pois eu não poderia ter contato com eles. Foi ali que compreendi a frase ‘a vida é um sopro’, de manhã estava de um jeito e à noite sentia dores. Muitas pessoas estavam morrendo com esse vírus e a ciência buscava respostas para algo tão avassalador.


Pela primeira vez na vida tive medo de morrer. Pensava em quem cuidaria do meu filho, além do meu marido? Como seria o futuro se algo de ruim acontecesse e eu não estivesse mais aqui? Como meu marido daria conta do tratamento de Pé Torto Congênito, sabendo que meu filho terá de ser acompanhado até os 18 anos? Será que a órtese seria colocada de forma correta, afinal EU fazia isso desde que começou a usar, aos dois meses de vida. Foram tantos questionamentos que, após mais de um e meio deste episódio em nossas vidas, volta e meia me pego lembrando desse período na tentativa de corrigir a rota, quando percebo comportamentos repetidos.

Tudo deu certo, meu filho foi bem cuidado, o marido sobreviveu sem mim, e a vida lá fora continuou rolando como devia.


Todas nós, mães, mulheres, seres humanos, precisamos de ajuda, as coisas serão feitas mesmo que você não esteja perto. Aceitar ajuda é o primeiro passo para dividir melhor suas malinhas. Dia a dia corrido é normal. Vida corrida, não. Não podemos normalizar o que não vai bem.


A minha tendência, algumas pessoas irão se identificar comigo, é a de ir e resolver, mas, não tem essa de ‘ir e resolver’. Alguém vai precisar ir por você em algum momento, fazer por você e resolver da maneira que tiver que ser. Não damos conta de tudo, nem devemos. Mesmo que não esteja aqui ou lá, PERMITA que as pessoas resolvam sozinhas o que quer que seja.


Faça o seu melhor, sem se tornar uma mala pesada pela incapacidade de dividir o que tem nela. Toda vez que sentir que algo não está legal, mude a rota, peça mais ajuda, exija menos de si mesma, cuide primeiro de você, observe-se no espelho e enxergue além da mãe, a mulher, a criança e o sentido pelo qual se tornou quem você é hoje.


Priorize-se! Não espere ficar doente para cuidar do bem mais precioso da vida: sua saúde. Ninguém melhor do que você para fazer isso.


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