Mundo Adaptado
Mundo Adaptado
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

Quais são os marcos do desenvolvimento neurológico de uma criança?

Quais são os marcos do desenvolvimento neurológico de uma criança?
Paulo Noronha Liberalesso
jan. 15 - 6 min de leitura
000

Olá, famílias. Meu nome é Paulo Liberalesso, sou neuropediatra, mestre em Neurociências, doutor em Distúrbios da Comunicação e diretor técnico do CERENA - Centro de Reabilitação Neuropediátrica.

Antes de começarmos a falar dos marcos do desenvolvimento neurológico, devemos compreender que o cérebro é um órgão extremamente complexo e, direta ou indiretamente, ele é responsável pelo controle de praticamente todas as funções do nosso organismo.

Outro ponto importante é que a única forma de sabermos se uma criança está apresentando atraso no desenvolvimento neuropsicomotor é conhecendo exatamente quais os limites considerados “normais” para o desenvolvimento infantil.

Quando falamos em “desenvolvimento” estamos nos referindo a vários aspectos clínicos que podem ou não estarem interligados, como o desenvolvimento motor, cognitivo, intelectual, comportamental, da linguagem e até mesmo o desenvolvimento emocional.

O termo “atraso global do desenvolvimento” é utilizado quando uma criança não atinge determinados marcos do desenvolvimento na idade esperada, mesmo levando em consideração as variações temporais individuais, o que pode alterar, por exemplo, a coordenação motora ampla (atraso para rolar, sentar, engatinhar, andar), a coordenação motora fina (apreender objetos com os dedos, manipular objetos com as mãos, pinça digital), a linguagem falada (tanto na fase de compreensão como na expressão), o desenvolvimento das habilidades intelectuais e sociais e a capacidade para desenvolver os autocuidados (vestir, escovação de dentes, banho ou mesmo alimentar-se de forma independente).

Desenvolvimento motor

A primeira etapa do desenvolvimento motor que o bebê deve atingir é o controle da cabeça (controlando a musculatura do pescoço), o que habitualmente ocorre ao redor de três meses de vida nas crianças nascidas à termo. Ainda aos três meses, um neném deve ser capaz de levantar a cabeça se estiver em posição ventral.

Aos quatro meses, a prensa palmar, que até então era um ato reflexo, torna-se um ato voluntário. Ao redor dos cinco meses, o bebê deve ser capaz de rolar e, aos seis meses, deve permanecer sentado já sem apoio significativo, sendo capaz de sustentar seu peso em pé. Também aos seis meses, o criança deve ser capaz de trocar objetos de mão e  retirar um lenço se colocado sobre seu rosto (chamamos isso de “prova do lenço”).

Perto de oito meses o bebê com desenvolvimento típico deve conseguir se sentar sozinho para que aos nove meses seja capaz de começar o engatinhar. Ao redor de 12 meses, devem começar a trocar os primeiros passos sem apoio. Porém, aqui faço uma observação: o início do caminhar varia muito entre as crianças.

Após um ano de vida, a motricidade ampla segue seu desenvolvimento e a motricidade fina (o controle mais preciso dos pequenos músculos) e o rápido desenvolvimento do sistema de equilíbrio passam a ser fundamentais para as novas aquisições motoras que acontecerão no segundo ano de vida.

Desenvolvimento da fala

A fala talvez seja a habilidade que apresenta a maior variabilidade entre as crianças. Ou seja, mesmo as com desenvolvimento típico podem apresentar grandes variações temporais na aquisição da fala de expressão.

Na média, bebês entre 0 e 3 meses apresentam vocalizações inarticuladas e choro. Já entre 3 e 6 meses, surge a chamada lalação (que é a emissão de sons guturais e as primeiras vogais). Entre 6 e 12 meses, a vocalização torna-se gradativamente mais articulada e imitativa, para que, ao redor de 12 meses, surja a emissão de duas sílabas de forma bem característica.

Ao redor de 18 meses, há o surgimento do que chamamos de “palavra-frase”, ou seja, a criança passa a ser capaz de utilizar uma única palavra que transmite o contexto comunicativo de uma frase completa. Por exemplo: o bebê olha para a mamadeira e diz “mamá”, o que significa “eu quero mamar”.

Entre 18 e 24 meses, a fala já é constituída por duas palavras e, após os 24 meses, a criança deve ser capaz de criar frases elementares com até três palavras. Um importante marco para o desenvolvimento da fala são os três anos de idade porque a partir desse momento a fala vai se tornando muito semelhante à fala de um adulto.

Aos 4 anos, os pequenos já devem ser capazes de narrar fatos e histórias de forma contextualizada e com cronologia adequada.

Desenvolvimento social

Esse aspecto do desenvolvimento é de mais difícil análise, pois há uma certa subjetividade envolvida. Mas, de modo geral, bebês de seis meses passam a apresentar um interesse já bastante evidente por outras crianças, embora o contato visual (como parte da comunicação social) seja observado já nas primeiras semanas de vida.

Entre 10 e 12 meses, o interesse por outras pessoas da mesma faixa etária já é claro, mas as crianças ainda preferem brincar com seus brinquedos individualmente. Após os 14 meses, crianças com desenvolvimento típico devem ser capazes de brincar juntas e iniciar a divisão de objetos.

Após os 18 ou 20 meses de idade, as crianças passam a interagir de forma mais dinâmica e é a partir dessa idade que passamos a ver uma correndo atrás de outra e ou imitando a ação da outra.

Entre 24 e 30 meses, os pequenos passam a brincar utilizando o componente da fantasia como cuidar e trocar fralda de uma boneca; brincar de fazer comida nas panelinhas; inventar briga entre os bonecos. Isso pode nos dar a falsa impressão de que preferem se isolar das outras crianças.

Após os três anos de idade, as crianças passam a compreender as brincadeiras propostas pelos "amigos" e passam a propor novas brincadeiras. Também é nessa fase que começam a desenvolver a empatia pelas outras crianças e oferecerem seus brinquedos para consolar as que estejam tristes ou chorando.

Enfim, o desenvolvimento humano é extremamente complexo e há uma enorme variabilidade de fatores mesmo para aqueles que são considerados típicos. Assim, a o meu conselho final é: caso você tenha dúvidas a respeito do desenvolvimento neuropsicomotor de seu filho, questione o pediatra a esse respeito até que você tenha a certeza de que está está tudo certo com o desenvolvimento dele.
 


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você