Mundo Adaptado
Mundo Adaptado
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
loading
VOLTAR

Prematuridade e retinopatia

Prematuridade e retinopatia
Beatriz G. Yuki
jun. 21 - 6 min de leitura
000

Como sabem o tempo normal de uma gestação é de 38-40 semanas, tempo necessário para a formação e maturidade completa dos órgãos. Dependendo da quantidade de semanas que o bebê nasce ele terá maior ou menor chance de vida por conta das complicações advindas da imaturidade de seus órgãos. Em alguns casos a condição é incompatível com a vida. Mas hoje quero me ater à questão dos olhos.

Como o prematuro é um bebê que nasce antes do tempo, e portanto antes de ter todos os órgãos formados, é preciso considerar a formação incompleta dos olhos. Por isso, durante o tempo em que permaneceu na UTI o Pedro realizou o exame de Fundo de Olho a cada 15 dias. É um exame bastante aflitivo para quem vê, mas extremamente necessário para identificar precocemente uma doença chamada Retinopatia da Prematuridade que pode deixar o bebê cego. (Veja aqui um ótimo material da Fiocruz sobre as várias questões do prematuro. A parte sobre retinopatia está na página 111).

Trata-se de uma doença diretamente relacionada ao crescimento incorreto dos vasos sanguíneos que alimentam a retina (responsável pela formação de imagens/ transforma estímulo luminoso em nervoso). Em alguns casos mais graves, além do crescimento incorreto dos vasos, podem ocorrer sangramentos e descolamento da retina ocasionando a perda parcial ou completa da visão. Por isso, o acompanhamento com um oftalmologista, de preferência especialista em prematuros, deve ser contínuo até a formação completa dos nervos. No link acima tem um dado que diz “Estima-se que das 100.000 crianças cegas na América Latina, 24.000 são cegas em decorrência da Retinopatia da Prematuridade”.

Os bebês que acompanhei durante o tempo de UTI não tiveram nenhum problema. Bastou tempo para que os nervos pudessem terminar de se formar. Mas, me lembro de um único caso em que o diagnóstico precoce garantiu que o bebezinho não perdesse a visão. Os pais puderam optar pelo tratamento (fotocoagulação a laser ou crioterapia) e paralisaram o avanço da doença. Talvez um dia ele precise de óculos o que não é nada demais para quem poderia perder a visão, certo?

Aos seis meses, e já em casa conosco, o Pedro recebeu alta do oftalmo. Graças a Deus a retina dele, e os nervos ópticos, se formaram perfeitamente e o fantasma da Retinopatia da Prematuridade foi embora nos deixando bastante aliviados. Entretanto, na última consulta o médico pediu retorno quando o Pedro completasse 1 ano para refazer a medição de grau que acusou hipermetropia. Segundo o médico, isso é comum entre as crianças e pode ser revertido com o crescimento natural dos olhos. Prematuros também tem tendência a ter outros problemas como estrabismo e diferença de grau entre um olho e outro.

Mas, os cuidados devem ser com todas as crianças. É bom levar os pequenos ao oftalmologista com certa regularidade. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) 19 milhões de crianças são deficientes visuais. Dessas, 12 milhões possuem deficiência relacionada a erros refrativos que podem ser diagnosticados e corrigidos. Mas, como no Brasil não temos a cultura de levá-los ao oftalmologista como fazemos com o pediatra, por exemplo, o problema só costuma ser descoberto na escola.

O exame para recém-nascidos mais conhecido, e difundido pelas campanhas federais, ainda é o Teste do Pezinho que é importantíssimo mas também pode ser enquadrado no que eu chamo de “desigualdade de oportunidades médicas”. Esse nome eu inventei depois de perceber (eu já tinha percebi isso há muito tempo na verdade) que no Brasil existe um apartheid na saúde que nos divide em duas classes: ‘aqueles que tem acesso a saúde (SUS)’ e os que tem ‘acesso a saúde de verdade’. Me explico.

No Brasil os programas de triagem e tratamento são muito heterogêneos dependendo da região do país, estado e até cidade em que você vive. E se você tem dinheiro para pagar convênio e médico particular as coisas mudam ainda mais. Quando tive o Pedro pude escolher se queria o Teste do Pezinho simples (gratuito a todos), um intermediário ou o super. Óbvio a lista de doenças metabólicas investigadas aumentava de acordo com o preço que você queria/poderia pagar. Me digam se isso não é um crime contra as mães e crianças que não podem pagar pelo serviço? No site da própria Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia está escrito:

“O teste é obrigatório por lei e sua coleta é garantida e está disponível em todos os municípios brasileiros, sendo gratuito no Sistema Único de Saúde. Em todo o Brasil, é feita pelo menos a triagem do hipotireoidismo congênito e da fenilcetonúria. Uma parte dos estados faz também a pesquisa de hemoglobinopatias (como a anemia falciforme) e alguns realizam também a pesquisa da fibrose cística. É possível triar cerca de 40 doenças com o Teste do Pezinho, mas geralmente os exames mais completos são realizados em laboratórios privados”

Ou seja…se seu filho nascer no Norte ele tem acesso a uma coisa, no Nordeste a outra, no Sudeste outra. Aliás, fiquei chocada também quando descobri que as vacinas que dão nos postos de saúde são diferentes das de clínicas particulares. E não é apenas o fator de dar ou não reação. As vacinas são diferentes no espectro do que imunizam.

Também pude escolher entre o tipo de Exame do Olhinho. As opções seguiam os mesmo moldes do Teste do Pezinho. Quanto mais $, mais minucioso era o exame.


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você