Meu filho começou a pular! O que isso significa?
Muita coisa, para nós, pais e famílias de crianças que nascem com o Pé Torto Congênito (PTC). Assim como andar é uma das principais preocupações no início do tratamento, ou quando temos conhecimento do diagnóstico, pular representa mais uma enorme conquista. Significa que estamos no caminho certo, seguindo o Método Ponseti corretamente, e o mais importante: nosso filho vive uma vida normal, sem limitações que o impeçam de fazer o que qualquer outra criança da idade dele faz. Tudo no tempo dele, sem a régua cruel dos adultos, que mede e compara crianças, adolescentes, adultos e idosos o tempo todo, a vida inteira lá fora. Criança não vê limitações, por mais que, de fato, tenha alguma. Quem não tem a sua?
Para quem está de longe ou desconhece o assunto, pular significa apenas pular, nada mais que isso. Mas pular requer esforço físico, mental, coordenação motora e equilíbrio. Tudo isso meu filho está conseguindo fazer e é uma enorme vitória para nós!
Pular significa dar impulso ao corpo, elevando-se no ar, tirar os pés do chão. No verbo transitivo é atravessar de um pulo. Sim, atravessamos mais uma etapa do tratamento que tem envolvido tantos sentimentos contraditórios, em que desistir não faz parte no vocabulário nem do dia a dia.
Temos de comemorar todos os dias, olhar para o nosso filho e aprender com o seu esforço, suas capacidades. Vibramos por suas conquistas, sejam pequenas ou grandes. Afinal, somos nós, pais, que convivemos com a deformidade, as etapas, os desafios, as lágrimas, as dores e as vitórias do tratamento. Nós, e somente nós, sabemos o que representa esse tímido pulinho.
Não podemos jamais permitir que alguém minimize ou compare os avanços do (a) nosso (a) filho (a). Somos seres únicos e as nossas capacidades também.
Ao dar pulinhos curtos, o Martim transpira e se esforça para não perder o equilíbrio. Ele se prepara, toma fôlego e às vezes perde um pouco o equilíbrio. Fica ofegante, agacha, pega impulso e salta. Cai e levanta, pula, se desequilibra, se equilibra novamente e repete. Insiste até alcançar o que quer, desafia seus limites para ir mais alto. Comparo esse 'pulo' com a minha própria vida.
Nascer com a deformidade do Pé Torto Congênito não torna meu filho mais ou menos especial. Para ele não existem limitações e o Martim tem mostrado isso para nós diariamente. Hoje, na metade do tratamento, tenho absoluta certeza de que as limitações estão na cabeça do adulto.
Para as crianças nada é impossível! Conforme crescemos e nos tornamos adultos, vamos perdendo essa capacidade de enxergar o mundo sem limitações. Criamos barreiras internas e preconceitos que nos impedem de avançar mais.
Torço para que o Martim e outras tantas crianças em tratamento, não só de pé torto, continuem transpirando para avançarem mais e mais. Que os olhares preconceituosos do mundo lá fora não impeçam meu filho de continuar pulando.
Todos precisamos pular mais, olhar mais alto! As diferenças não podem se transformar em rótulos nem diagnósticos limitantes.
Vejam o vídeo do Martim dando seus pulinhos.