Há alguns meses tenho me pego pensando que devo algo a minha querida Carla Delponte (pessoa especial que admiro muito). Ela me pediu pra que falasse um pouco sobre o outro lado (tive gemelar prematuros de 28 semanas) e como pediatra, relatasse essa experiência.
Todavia, meu coração na realidade queria falar de pessoas, mães, como a Carla que tive o privilégio de conhecer e porque não conviver, mesmo que em momento tão difícil e de incerteza para todas nós. Vi nessas mulheres um amor sem medida, uma fé capaz de transpor os mais elevados obstáculos , uma resiliência presente em poucas pessoas, uma humanidade (de se preocupar com o próximo mesmo quando você também está numa situação nada favorável), como nunca antes presenciei.
Por já ter cuidado de muitos bebês em estado grave em UTI Neonatal e ter muitas vezes que dar às mães notícias nada agradáveis, estar ali com elas e na mesma situação era diferente e também especial. Todas as nossas angústias e lágrimas desapareciam um pouco ou ao menos momentaneamente na sala de ordenha (onde não era permitido conversar para assim diminuir os riscos de contaminação do leite), mas confesso que era ali nosso melhor ponto de encontro para o desabafo, para tomarmos força para mais um dia.
E é a elas que dedico todo meu carinho, orgulho, respeito e gratidão, sim gratidão, por serem quem são, por lutarem por seus filhos com deficiências leves, ou um pouco mais graves (não incapazes) mas fortes, especiais (não especiais pela deficiência) mas especiais por terem tanto amor pra nós dar e tanto pra nos ensinar - a vida ao lado desses gigantes é uma eterna escola.
Hoje meus meninos estão grandes, mas a sensação de que sempre precisam de todo aquele cuidado nos acompanha. Basta um resfriado um pouco mais demorado para que as lembranças retornem um pouco mais fortes, mas a fé sempre vem junto.
Parabéns pequenos gigantes prematuros, parabéns mães de Uti Neonatais!!!
"Mulher virtuosa quem a achará ? O seu valor muito excede o de rubis."