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Paternidade atípica

Paternidade atípica
Guilherme Bucco
nov. 26 - 3 min de leitura
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Foi em maio de 2018 quando me tornei pai. Na madrugada do dia 7, uma segunda-feira, minha esposa acordou com contrações e fomos à maternidade depois de termos vivido uma gestação sem contratempos. As 40 semanas de gravidez haviam completado o bingo da bem-aventurança. Porém, a manhã ensolarada de expectativa foi ganhando tons cinzas de ansiedade e apreensão. Tudo estava perfeito...até não estar mais. Dora nasceu e teve uma hipóxia perinatal. Seu corpo roxo foi reanimado pelo pediatra plantonista e foi levado à UTI, onde ficaria por 16 dias.

Hoje Dora tem 1 ano e 6 meses. Sua paralisia cerebral a faz ter atraso no desenvolvimento neurológico e motor. Não senta, não fala, não apoia a cabeça, não fixa o olhar. Nessa curta trajetória, teve Síndrome de West aos 4 meses, uma síndrome agressiva caracterizada por ondas cerebrais que desorganizam todo o cérebro. É como se tudo que aprendemos fosse anotado em um diário e a síndrome viesse e jogasse tais memórias em uma fogueira. Prestes a comemorar seu segundo Natal, minha filha já soma mais consultas e medicamentos que minha esposa e eu juntos. 

Um ano atrás, eu era uma casca ambulante. Se em um passo eu estava prestes a abraçar o abismo, no passo seguinte eu firmava o pé no chão. Com relutância, medo, receio, preconceito e necessidade, me vi entrando mês a mês no mundo atípico. Comecei a ler sobre a condição da minha pequena e me identificando com diversos relatos encontrados internet afora. Esses relatos me ajudaram bastante, e ainda ajudam, mas não foram capazes de tirar a sensação de solidão. 

O fato é que não havia tantos relatos de pais de crianças atípicas. É verdade que existe um aqui e outro acolá, alguns blogs de casais, entrevistas com famílias, mas são poucos. Parte de eu me sentir sozinho é que não tinha com quem me correlacionar. Não via outros homens compartilharem suas histórias. 

Foi então que surgiu o Papai Atípico, um projeto que visa ser um canal de apoio para pais de crianças atípicas e suas famílias. Nele, eu expresso algumas reflexões sobre minha paternidade, meus sentimentos, minhas frustrações, minhas alegrias. Também conto, em formato de podcast, como foram os sete primeiros meses da Dora. Desde o seu nascimento em 7 de maio de 2018 até dezembro de 2018. 

Meu relato e as entrevistas com outros homens podem ser ouvidas no Spotify, no Youtube ou no agregador de podcast favorito. E, com muita alegria, começo a contribuir aqui na Mundo Adaptado contando as experiências de minha paternidade atípica, aprendizados, adversidades, a evolução de minha filha, como nossa família vai enfrentando os desafios e escrevendo nossa história.

Não possuo respostas e tampouco me sinto feliz 100% do tempo. Mas, descubro algo novo a cada dia e poder falar sobre isso me ajuda a me abrir para o futuro. Afinal, apesar de cada situação ser individual, minha paternidade é como qualquer outra e nós nunca estamos sozinhos!

Crédito da foto: Lou Bueno Fotos


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