Talvez eu esteja repetitiva com o tema masking mas sou extremamente observadora e percebo coisas interessantes relativas a isso em mim e nos outros.
Como já falei várias vezes aqui, antes do diagnóstico sempre fiz masking por não saber quem eu era e porque agia como agia. Depois do diagnóstico é esperado que você parta numa viagem de autoconhecimento e isso de fato acontece. O diagnóstico certeiro é importante para que você tenha um ponto de partida, uma base. É como se um véu fosse levantado e você começa a se enxergar com todas as suas idiossincrasias. Até aí, tudo bem mas vou levantar uma questão. Se a gente se reconstrói baseados no diagnóstico não estaríamos criando uma nova persona? E vou além. O autoconhecimento é estático ? Assumir que já nos conhecemos a partir do diagnóstico não pode nos levar a fazer outra espécie de masking? Um masking autista?
Antes do diagnóstico nos sentíamos deslocados no mundo, sem uma sensação de pertencimento e após o diagnóstico aparentemente somos acolhidos por uma comunidade autista que a primeira vista parece sólida mas não. Ela é atravessada por vários recortes assim como a sociedade. Tem os recortes de níveis de suporte, de quem é mãe atípica, idade, classe social, independência, autonomia,etc. Isso apenas para citar alguns. E assim , voltamos a nos sentir deslocados de novo e aí entra o nosso conhecido masking, agora como masking autista para sermos aceitos em um desses nichos.
E me pergunto. Vale a pena entrar em outra caixinha? Sei que o ser humano é um ser social mas para quem já viveu toda uma vida tentando se encaixar em caixas desconfortáveis, vale a pena travar o belo processo de autoconhecimento para ser aceito? Não é mais lindo, apesar de solitário, seguir o seu processo legítimo e ir voando cada vez mais alto, como Fernão Capelo Gaivota que escolhe a solitude para voar livre?
Sou bem inclinada a seguir o voo de Fernão. Sou autista, sei meus pontos fortes e fracos. Sei também que gosto de voar alto. A solitude me atrai. Solitude, não solidão. O surf e os mergulhos e nadar com os patos marinhos me ensinaram que há um encontro prazeroso comigo mesma e uma conexão transcendental com o Todo. É isso que desejo para mim. Eu não quero fazer masking para me encaixar. Sendo eu mesma vou atrair quem também quer ser único.
Fica a questão: o diagnóstico liberta ou cria um novo personagem? Ou as duas coisas? Sou bem propensa a crer que o autismo apenas faz parte da evolução da espécie e a gente está complicando. Tem dificuldades em ser autista? Tem, muitas. Mas onde não tem dificuldades em existir?
Seguiremos lutando por direitos? Óbvio, mas acima de tudo os convido a voar. Ou a surfar!
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MASKING AUTISTA?
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