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Marcos do desenvolvimento neurológico normal

Marcos do desenvolvimento neurológico normal
Paulo Noronha Liberalesso
jul. 21 - 7 min de leitura
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Antes de começarmos a falar dos marcos do desenvolvimento neurológico, devemos compreender que o cérebro é um órgão extremamente complexo e, direta ou indiretamente, ele é responsável pelo controle de praticamente todas as funções do nosso organismo.

Outro ponto importante é que a única forma de sabermos se uma criança está apresentando atraso no desenvolvimento neuropsicomotor é conhecendo exatamente quais os limites considerados “normais” para o desenvolvimento infantil. Quando falamos em “desenvolvimento”, estamos nos referindo a vários aspectos clínicos que podem ou não estarem interligados, como o desenvolvimento motor, cognitivo, intelectual, comportamental, da linguagem e, até mesmo, o desenvolvimento emocional.

O termo “atraso global do desenvolvimento” é utilizado quando uma criança não atinge determinados marcos do desenvolvimento na idade esperada, mesmo levando em consideração as variações temporais individuais, o que pode alterar, por exemplo, a coordenação motora ampla (atraso para rolar, sentar, engatinhar, andar), a coordenação motora fina (apreender objetos com os dedos, manipular objetos com as mãos, pinça digital), a linguagem falada (tanto na fase de compreensão como na expressão), o desenvolvimento das habilidades intelectuais e sociais, bem como a capacidade para desenvolver os autocuidados (vestir, escovação de dentes, banho ou mesmo alimentar-se de forma independente).

Estudos apontam que entre 6 e 8% das crianças até 3 anos de idade irão apresentar algum nível de atraso do desenvolvimento neuropsicomotor, sendo metade dos casos decorrente de estimulação deficiente ou insuficiente. Sabemos, também, que existe uma relação direta entre a precocidade do início da estimulação e a normalização do desenvolvimento, ou seja, quanto mais cedo iniciamos as intervenções para estimulação melhores serão os resultados.
Em nosso artigo desse mês, vamos abordar de forma breve e objetiva os principais aspectos do desenvolvimento infantil em suas principais vertentes.

 Desenvolvimento motor:

A primeira etapa do desenvolvimento motor que o bebê deve atingir é o controle da cabeça (controlando a musculatura do pescoço), o que habitualmente ocorre ao redor de 3 meses de vida nas crianças nascidas à termo. Ainda aos 3 meses, um bebê deve ser capaz de levantar a cabeça se estiver em posição ventral.

Ao redor de 4 meses, a prensa palmar, que até então era um ato reflexo, torna-se um ato voluntário. Ao redor dos 5 meses, o bebê deve ser capaz de rolar no leito e, aos 6 meses, deve permanecer sentado já sem apoio significativo, sendo capaz de sustentar seu peso em pé. Também aos 6 meses, o bebê deve ser capaz de trocar objetos de mão e deve conseguir retirar um lenço colocado sobre seu rosto (chamamos isso de “prova do lenço”).

Ao redor de 8 meses, um bebê de desenvolvimento típico deve conseguir se sentar sozinho, para que aos 9 meses seja capaz de iniciar o engatinhar. Ao redor de 12 meses, os bebês devem começar a trocar passos sem apoio, embora o momento de início do caminhar possa variar muito entre as crianças. Há bebês absolutamente típicos, que irão andar sem apoio somente após 14 ou 15 meses.

Após um ano de vida, a motricidade ampla segue seu desenvolvimento, mas a motricidade fina (o controle mais preciso dos pequenos músculos) e o rápido desenvolvimento do sistema de equilíbrio passam a ser fundamentais para as novas aquisições motoras da criança no segundo ano de vida.

 Desenvolvimento da fala:

A fala talvez seja a habilidade complexa que apresenta a maior variabilidade entre as crianças, ou seja, mesmo crianças de desenvolvimento típico podem apresentar grandes variações temporais na aquisição da fala de expressão.

Na média, crianças entre 0 e 3 meses apresentam vocalizações inarticuladas e choro. Já entre 3 e 6 meses, surge a chamada lalação (que é a emissão de sons guturais e as primeiras vogais). Entre 6 e 12 meses, a vocalização torna-se gradativamente mais articulada e imitativa, para que, ao redor de 12 meses, surja a emissão de duas sílabas de forma bem característica.

Ao redor de 18 meses, há o surgimento do que chamamos de “palavra-frase”, ou seja, a criança passa a ser capaz de utilizar uma única palavra que transmite o contexto comunicativo de uma frase completa. Por exemplo: o bebê olha para a mamadeira e diz “mamá”, o que significa “eu quero mamar”.
Entre 18 e 24 meses, a fala é constituída por 2 palavras e, após os 24 meses, a criança deve ser capaz de criar frases elementares com até 3 palavras. Um marco para o desenvolvimento da fala são os 3 anos de idade, pois, a partir desse momento, a fala vai se tornando muito semelhante à fala de um adulto, já que a criança inicia, gradativamente, o uso dos tempos verbais, gênero masculino e feminino, singular e plural, os artigos, pronomes e preposições.

Aos 4 anos, a criança já deve ser capaz de narrar fatos e histórias de forma contextualizada e com cronologia adequada.

 Desenvolvimento social:

Esse aspecto do desenvolvimento é de mais difícil análise, pois há uma certa subjetividade envolvida. Mas, de modo geral, bebês de 6 meses passam a apresentar um interesse já bastante evidente por outras crianças, embora o contato visual (como parte da comunicação social) seja observado já nas primeiras semanas de vida.

Entre 10 e 12 meses, o interesse por outras crianças já é totalmente evidente, mas as crianças ainda preferem brincar com seus brinquedos individualmente, mesmo na presença de outra criança. Após os 14 meses, crianças de desenvolvimento típico devem ser capazes de brincar todas juntas, iniciando a divisão de brinquedos.

Após os 18 ou 20 meses de idade, as crianças passam a interagir de forma mais dinâmica e é justamente a partir dessa idade que passamos, por exemplo, a ver uma criança correndo atrás de outra e uma imitando a ação da outra.

Entre 24 e 30 meses, as crianças passam a brincar com um maior componente de fantasia (exemplo: cuidar e trocar fralda de uma boneca; brincar de fazer comida nas panelinhas), o que pode nos dar a falsa impressão de que estão mais “isoladas” das demais crianças (uma vez que essas brincadeiras são realmente mais individuais).
Após os 3 anos de idade, as crianças passam a compreender totalmente as brincadeiras propostas pelas demais crianças e passam a propor novas brincadeiras. Também é aos 3 anos de idade que as crianças começam a desenvolver de forma muito clara a empatia pelas outras crianças e começam a oferecer brinquedos, consolando amigos que estejam tristes ou chorando.

Enfim, o desenvolvimento humano é extremamente complexo e há uma enorme variabilidade, mesmo dentro daqueles que são considerados típicos. Assim, a dica final é: caso você tenha dúvidas a respeito do desenvolvimento neuropsicomotor de seu filho, questione seu pediatra a esse respeito até que você tenha absoluta certeza que está tudo dentro do que é esperado para a idade cronológica da criança.

Paulo Liberalesso.
Neuropediatra. Mestre em Neurociências. Doutor em Distúrbios da Comunicação. 
Diretor Técnico do CERENA - Centro de Reabilitação Neuropediátrica.

 


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