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Post 11- Crise Convulsiva Febril - Tratamento - Parte 3

Post 11- Crise Convulsiva Febril - Tratamento - Parte 3
Paulo Noronha Liberalesso
mar. 29 - 5 min de leitura
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Post 11- Crise Convulsiva Febril - Tratamento - Parte 3

O tratamento da convulsão febril deve ser estabelecido em 3 níveis: orientação familiar, tratamento da fase aguda e profilaxia 
da recorrência das crises.

Orientação familiar:

A orientação familiar deve ser detalhada, de modo que os pais entendam o caráter benigno da doença, embora devam estar cientes de que a recorrência da crise pode ocorrer em um número considerável de casos.

O controle rigoroso da temperatura deve 
ser ressaltado como o principal aspecto no controle da recorrência. Embora se trate de uma doença neurológica benigna, a consulta 
médica da criança com convulsão febril benigna da infância costuma ser longa e laboriosa, uma vez que as crises ocorrem em 
crianças neurologicamente normais, representando um evento totalmente inesperado para os pais e demais familiares.

Tratamento da fase aguda:

Na fase aguda da convulsão febril, a criança deve ser medicada como em qualquer outra situação de emergência envolvendo crises epilépticas, embora a grande maioria dos pacientes chegue ao pronto-socorro após o término da crise e já com recuperação 
neurológica completa.

No momento da admissão hospitalar, a temperatura deve ser imediatamente aferida, sendo indicado controle da febre através de 
meios físicos (compressas) e antitérmicos. Na vigência da convulsão febril, o tratamento com drogas antiepilépticas de resgate (que 
visam interromper a crise convulsiva em curso) segue o mesmo esquema das crises epilépticas que ocorrem sem febre.

Os casos devem ser avaliados individualmente, embora crianças neurologicamente saudáveis, com rápida recuperação da consciência e sem déficits neurológicos focais, possam não necessitar de internação hospitalar após uma primeira convulsão febril.

Nos casos em que o paciente chega ao hospital em crise na vigência de febre, sendo necessária a administração de drogas antiepilépticas endovenosas, a observação hospitalar por algumas horas pode trazer segurança para a família e para o médico assistente.

Tratamento profilático:

Quando falamos em tratamento profilático, referimo-nos ao uso contínuo de medicações antiepilépticas no sentido de reduzir o risco da criança apresentar recorrência da crise. O 
melhor momento para indicar o início do tratamento com droga antiepiléptica contínua é assunto bastante controverso.

Na prática, a indicação de tratamento contínuo baseia-se muito na experiência pessoal do médico. O uso contínuo de fenobarbital apresenta os inconvenientes dos efeitos colaterais relacionados à droga, destacando-se a sonolência, náuseas, vômitos, alterações do humor (algumas crianças apresentam grande irritabilidade sendo necessário suspender o medicamento) e queda no rendimento escolar, 
quando utilizado em criança mais velha.

O decréscimo do coeficiente 
de inteligência relacionado ao uso prolongadodo fenobarbital é demonstrado em alguns estudos e refutado por outros. Por outro lado, o fenobarbital tem seus efeitos colaterais amplamente conhecidos devido ao longo tempo de uso, o que o torna mais seguro para ser usado.

A profilaxia com valproato de sódio também apresenta riscos relacionados aos seus efeitos colaterais, como náuseas, 
vômitos, ganho de peso, alteração de textura e coloração dos cabelos (podem se tornar mais claros e ondulados) e alterações 
sanguíneas. A hepatite desencadeada pelo valproato de sódio, embora um efeito relativamente raro, é potencialmente grave, particularmente em crianças pequenas. O acompanhamento regular com exames de sangue previne quadros de hepatite e 
pancreatite que podem ser induzidos por esse medicamento.

A administração de benzodiazepínicos de forma intermitente (somente nos períodos de infecção e febre) é o tratamento de 
escolha em muitos casos, na tentativa de evitar os efeitos colaterais indesejáveis relacionados ao uso contínuo de medicamentos, como o fenobarbital e o valproato de sódio. Embora haja diferentes 
esquemas, habitualmente indicamos que logo no primeiro dia de febre a criança comece a receber o benzodiazepínico por via oral e que permaneça recebendo esta medicação até 24 horas após o término da febre.

A orientação familiar quanto à necessidade do controle rigoroso da temperatura permanece como o aspecto mais importante do tratamento, uma vez que mesmo na vigência de profilaxia com fenobarbital ou valproato de sódio ou da administração intermitente de benzodiazepínicos (como o diazepam, clonazepam, nitrazepam), a recorrência da convulsão febril é relativamente frequente.

Não há dúvida de que o uso contínuo de fenobarbital ou valproato de sódio reduzem a frequência de convulsões febris em crianças 
predispostas. Por outro lado, não há evidências na literatura que comprovem cabalmente que a profilaxia contínua reduza o risco de desenvolvimento de epilepsia.

Convulsão febril e epilepsia do lobo temporal:

Existe íntima relação entre crise convulsiva febril complexa na infância e epilepsia do lobo temporal por esclerose medial, o tipo
mais frequente de epilepsia nos adultos.

Embora a relação entre essas duas entidades seja demonstrada por inúmeros trabalhos 
populacionais, há dúvidas quanto aos aspectos fisiopatológicos dessa associação.

Há três teorias a respeito:

1. As crianças nasceriam com alterações anatômicas das estruturas mediais do lobo temporal, particularmente do hipocampo, as 
quais se manifestariam através de convulsões febris na infância e da epilepsia do lobo temporal na vida adulta.

2. As crianças nasceriam com alterações anatômicas das estruturas mediais do lobo temporal, as quais seriam agravadas por crises convulsivas febris, na infância, o que provocaria a epilepsia temporal medial nos adultos.

3. As crianças nasceriam com as estruturas mediais do lobo temporal normais e essas seriam lesadas pela ocorrência de convulsões febris, o que provocaria o surgimento da epilepsia do lobo temporal medial nos adultos.


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