No exato instante em que eu e minha esposa recebemos o diagnóstico de PTC (Pé Torto Congênito) unilateral esquerdo do nosso filho, durante o ultrassom realizado por volta dos seis meses de gestação, a angústia e a preocupação naturais nesse tipo de situação me paralisaram por alguns minutos. Mas, assim que consegui compreender o que estava acontecendo, entendi que minha companheira de vida e aquela criaturinha que sintetizava uma história de tanto carinho e amor precisariam ainda mais do meu amparo.
Sou o que se pode chamar de “papai babão” e tenho o maior orgulho disso. A vida inteira sonhei em ter a minha família, uma fortaleza que me protegeria dos perigos do mundo e que receberia sempre o meu melhor.
Fiquei sabendo que seria pai pela primeira vez no dia do meu aniversário (2 de agosto), quando recebi o maior de todos os presentes. Por isso, era muito natural para mim acompanhar os exames, a compra do enxoval, os preparativos para o chá de bebê e todas as coisas que fazem parte desse período inigualável.
Não, eu não sou perfeito. Apenas cumpri a minha obrigação de pai. Mas tudo o que fiz foi por amor. Sempre serei capaz de qualquer coisa para garantir que o nosso Martim cresça da maneira mais saudável e feliz possível.
Quando nosso bebê chegou, eu estava lá na sala de parto. Pouco depois do nascimento, quando uma das enfermeiras foi pesá-lo, me mostrou rapidamente seu pezinho esquerdo com a naturalidade típica dos profissionais dessa área no momento em que algo sai fora do esperado. “Vocês já sabiam disso, né? Mas está tudo bem”, me disse, levando rapidamente aquela bolotinha de gente para a balança.
Poucos dias depois, ainda me acostumando com a ideia de que seria responsável por um ser humano dali pra frente, comecei a tentar marcar a primeira consulta do tratamento pelo Método Ponseti, que começou cerca de duas semanas após o nascimento do nosso garoto.
Foram meses de idas semanais ao hospital. Toda segunda-feira acordávamos de madrugada, pegávamos um Uber (eu e minha esposa não dirigimos, mas isso é assunto para outra postagem) e íamos para o Hospital do Servidor Público de São Paulo, já lotado àquela hora.
Ver aquela coisinha de poucos dias de vida recebendo gessos constantemente, tendo o pé examinado e passando por cirurgia eram testes de resistência emocional daquele tipo que a gente só percebe que tem forças para superar quando os vivencia.
Além de enfrentar a barra do tratamento do nosso filho, ouvíamos crianças chorando em função de algum procedimento e histórias inacreditáveis de resistência e superação. Cada vez que saíamos do hospital, precisávamos de uns três dias para voltar ao normal. O baque era grande e vivemos intensamente cada fase.
Desde então, ouvi muitas mães desacompanhadas ou contando com o amparo apenas das avós das crianças. Conheci casos de mulheres abandonadas por seus maridos após o nascimento da criança porque eles não conseguiram lidar com a situação e simplesmente adotaram o caminho mais fácil nessas horas: fugir.
É justamente nesse ponto que eu quero chegar, depois de ter contado uma parte da história da minha relação com meu filho, um garotinho muito inteligente e que está a cada dia mais forte e ágil. Ser homem é mais fácil numa sociedade que exige tanto das mulheres em casa, no trabalho e em todas as demais esferas.
Ainda há, infelizmente, muitos camaradas que se sentem desobrigados a colaborar com as tarefas domésticas e a acompanhar de perto o tratamento dos filhos. Para eles, seu papel é sair de casa às 7h da manhã e passar o dia "caçando uns três ou quatro javalis" que garantam a sobrevivência do núcleo familiar. Enquanto isso, a esposa e mãe fica responsável por atender as demandas da prole e cuidar da decoração da caverna.
Ok, nem todo mundo pensa assim. Exagero e faço piada aqui, me desculpe, foi só para quebrar um pouco o clima pesado.
Mas o fato é que gostaria de chamar a atenção dos homens que ainda não se conscientizaram sobre a importância de realmente participarem do tratamento de seus filhos. Não é sermão para marmanjos, é só um toque, beleza?
Caras, sejam presentes de verdade, ofereçam amparo a suas mulheres e busquem informações sobre o tratamento com os médicos. É fundamental que elas sintam que podem contar com vocês para tudo, principalmente no momento em que estão mais fragilizadas.
Posso garantir que vale muito a pena. Porque, como diz aquela velha canção dos Beatles: “No final, o amor que você recebe é igual ao amor que você dá.”