Mas nem sabia o que estava por vir. Quando o Rafinha completou 16 dias de vida, eles transferiram ele da utineo, para uma salinha que ficava ao lado da maternidade, eles chamavam de pé na rua, porque ela para lá que os prematuros prestes a terem alta iam.
Mas quando cheguei no hospital aquela manhã, meu coração estava apertado não conseguia entender o porquê, achei que era pelo fato do pai do Rafinha estar indo embora novamente, pois ele veio para o nascimento do filho e depois veio registra-lo.
Subi com o coração na mão, e quando cheguei na uti ele não estava lá. Nossa que sensação horrível. Aí as enfermeiras me falaram rindo que ele havia sido promovido, mal sabia
Elas.
Fui até a sala aonde eles estava, não gostei nenhum pouco de ter ido pra, parece que mãe sente que tem algo de errado né.
Bom foi o pior domingo que passei lá. O Rafinha após sua primeira mamada ficou estranho, incomodado, não achava posição pra ficar, eu chamei a enfermeira mas ela não deu muita atenção, o dia passou e após as mamada ele chorava cada vez mais, colocaram uma luva com agua quente, pois acharam que ele estava com cólica. Bom eu fiquei o dia todo com ele no colo, e pedindo a Deus que me ajudassem a descobrir o que ele tinha, chamei a medica de plantão de ela veio bem arrogante me dizer que não podia dar remédio a ele, pois causa apneia em prematuros, porem nem perto dele ela foi para fazer qualquer diagnostico. Fiquei com muita raiva e não sabia pra quem recorrer. Foi aí que comecei a falar com o Rafinha para ele vomitar o leite, pois assim eles viriam examina-lo (pensei). Somente as 19:15 quando houve a troca de plantão, a medica que agora não consigo me lembra o nome pois ela é chinesa, veio vê-lo e já levou ele novamente para Uti Neo. Sei que qualquer mãe ficaria aliviada em ter seu filho fora da UTI, mas meu coração sabia que ainda não era a hora, e assim realmente foi.
Ele teve uma hemorragia decorrente da ruptura da parede intestinal e como estava com a sonda nasogastrica, tudo que estava no estomago saia por ela, e saiu muitos líquidos iniciando com o leite ingerido no dia mas a noite começou a sair sangue, foi assustador. A enfermeira Cilene uma grande amiga e um anjo de pessoa, estava conosco aquela noite. Ela não conseguia me olhar de tanto sofrimento que ela e a Flavinha sentiam ao ver nosso pequeno naquela situação. Lembro e consigo até ouvir a voz dela me falando que essa era uma doença ingrata do mal. E após o DR.( desculpem mas não me lembro o nome dele no momento) me falou o diagnostico, ele estava com infecção no intestino, e que iriam entrar com antibióticos, mas precisavam sedá-lo. Me tiraram da sala da Uti para entubar ele, quando voltei ele estava sedado e com tudo de ventilação. Uma imagem que nunca será apagada de minha memória, pois ele ali sedado sem vida, parecia até que tinha morrido. Pensem em uma noite longa, e eu ali sozinha sem ninguém pra abraçar, pois o pai de Rafinha estava bem longe dali. Me senti muito sozinha, desesperada mesmo. Só chorava e tentava entender o que estava acontecendo com meu bebe.
No dia seguinte uma cirurgiã (Ana Cristina) veio examina-lo, e disse que ainda não seria necessário a intervenção cirúrgica, somente o tratamento com antibióticos mesmo, fiquei mais aliviada. Porem na manhã seguinte ela voltou a examina-lo e disse que iriam abri-lo para fazer uma pequena retirada de parte do intestino, pois pelos exames havia parte necrosada. Então, ela me explicou o procedimento que seria efetuado, e que provavelmente eles teriam que fazer a bolsa de colostomia, para que o intestino fosse tratado fora do corpo. Lembro que falei para ela fazer o que achasse necessário para salvar meu filho. Foi uma conversa fria como todo medico fala, ainda mais em uma situação como essa.
Bom preparam ele, e o levaram imediatamente para cirurgia.
Eu como não sabia aonde ficar, fui para capela do hospital, mas não fiquei lá mais de 15 minutos, estava rezando e meu celular tocava muito, não atendi, quando terminei a minha oração a nossa senhora, peguei o celular e falei para minha mãe que iria lá fora para ver quem estava ligando, quando me levantei para sair da capela os médicos estavam entrando pela porta a minha procura, levei o maior susto, pois foi tudo muito rápido. Me levaram para fora e na recepção do hospital me deram a pior notícia. Eles disseram que não tinha mais o que fazer, pois o intestino do Rafinha estava todo necrosado, (enterocolite necrosante total) não tinha mais nenhuma parte viva, então eles só abriram e fecharam meu bebe. E a medica Cristina me disse que a infecção iria entrar na corrente sanguínea dele e ele entraria em choque e morreria, que eles davam 72 horas de vida somente para ele. Sai correndo pra Uti, sem entender o porquê de tudo aquilo, não sabia como ele estava aonde ele estava e como iria encontra-lo. Quando cheguei na Uti respirei fundo, não conseguia nem enxergar a pia aonde fazíamos a lavagens das mãos e assepsia. As enfermeiras estavam todas caladas, a uti estava em um silencio assustador, nem os aparelhos apitavam, até os bebes estavam sentindo aquela sensação de dor eu acho. A Lilian me pegou na entrada das salas pois eu nem sabia aonde tinham colocado ele, o canto aonde ele estava antes, estava vazio. Fui para a sala 1, ele estava todo roxinho frio devido ao processo cirúrgico. A Lilian estava colocando luvas com agua quente ao redor dele para ajudar a esquenta-lo, a incubadora estava a 42 graus.
A Dra Maria Cristina que estava de plantão nesse dia, chegou perto de mim e me perguntou se eu tinha alguma dúvida, eu virei pra ela e disse que a minha dúvida ela não saberia responder. Ela me abraçou e disse que infelizmente não tinha essa resposta, mas que se eu quisesse eu podia pegar ele no colo. Eu naquele momento não quis pois estava vendo ele ali com um corte no abdômen enorme, todo monitorado, cheio de fios pelo corpo. E a Dr me disse assim; nada melhor que um colinho de mãe. Tomei coragem e pedi para segura-lo mais tarde assim que a temperatura se normalizasse.
Assim que ele ficou mais quentinho eu peguei ele no colo e fiquei ali conversando com ele, e perguntando o porquê que ele queira ir embora. Porque estava desistindo de mim.
Quando percebi a uti estava cheia de visitas pro Rafa, achei aquilo um horror, pois estava liberando a visita pra ele como se fosse um velório, piores momentos dentro da uti, o da desistência, pois naquele momento percebi que já tinham entregue meu filho a morte. E eu ali só conseguia ver a vida nele, nem sei como explicar, mas enquanto ele respirava e batia o coraçãozinho eu não ia desistir dele.
Minha amiga Carolina Sanches, que me ajudou muito quando ele nasceu, pois até me cedeu um quarto em sua casa para que eu ficasse mais próximo do hospital. Cuidou de mim não tenho como agradecer a tudo o que ela me fez. Lembro quando ela entrou e me viu como Rafinha no colo, ela se ajoelhou em minha frente pedindo desculpas por não estar mais presente comigo naquele momento. Eu olhei bem nos olhos dela e disse que ela estava me ajudando mais do que eu precisava, pois foi a única amiga que ficou ao meu lado no momento de desespero e me fazia companhia e me dava carinho, que era o que mais precisava. Nem preciso falar somos amigas até hoje e espero que seja pro resto da vida, mesmo distantes.
Após o pai de Rafinha chegou do Paraná, estava com o rosto triste, mas não estava chorando (homens sempre fortes) chegou perto de mim, estávamos na uti minha mãe, a mãe dele e a Suzi minha ex cunhada e amiga, O Padre subiu até a Uti para batizar o Rafinha, pois informaram a ele do ocorrido, fizemos o batismo ali e a madrinha escolhida pro Rafinha foi Nossa Senhora. Após o batismo, todos saíram ficando somente eu e o Danillo, eu com o Rafinha no colo o Danillo pegou uma cadeira e sentou em minha frente, ficou ali olhando pra ele e me perguntou porque tinha que ser assim. Eu ainda sentia muita magoa e culpava ele por tudo que estava acontecendo. Mas respirei fundo e falei, que estávamos passando o que tínhamos que passar, mas para ele ver que o filho estava lutando contra tudo, e que se ele não acredita em Deus porque não consegue vê-lo, isso ele sempre me dizia que não acreditava em Deus porque nunca tinha visto Deus. Eu virei e falei olhe pro seu filho, ele você está vendo, acredite nele ele está aqui. Foi quando vi que seus olhos se encheram de lagrimas.
A Mãe dele também foi muito infeliz no comentário que me fez, hoje peço todos os dias para que isso seja apagado e tendo não guardar nenhum sentimento ruim para com ela por causa disso. Mas ela chegou e me disse que eu já tinha uma filha, não precisava de outro, e que seu filho também não precisava de um filho naquele momento. Nossa eu olhei para ela com um olhar que eu nem sei como não respondi de forma mau educada naquele momento. Só olhei para ela e me virei novamente para o Rafinha e lhe disse para ele não ouvir o que ela estava falando, pois ela não sabia o que estava dizendo.
Todos os médicos, auxiliares e enfermeiras, falavam que essa doença era maldita, pois no estágio que estava não tinha cura. Não existe transplante de intestino, então eu nada poderia fazer, a não ser rezar e pedir a Deus pela sua misericórdia. E foi o que fiz, não me abati, entreguei meu filho nas mãos do pai, nas mãos do médico dos médicos. Tive muita ajuda das mães que ali também estavam com seus filhos, cada um com seu propósito, sua vivencia.
Foram dias intermináveis, eu ali frágil desamparada, minha mãe nem conseguia ir me visitar pois não sabia como agir, o que falar para mim. O Danillo estava comigo naqueles dias, porém não tínhamos intimidade de um casal, ali era só o pai e a mãe do Rafinha, eu ali sempre a espera de um gesto de carinho, parecia aqueles cãozinhos à espera do carinho do dono sabe? Rezava todos os dias e a todo momento, rezava o terço, lia o livro o Médico Jesus, a Paula uma das mães da UTI me deu um livro com o título A Cura através da verdade, do seicho no ei, li todo também, a mãe do Danillo também me levou um livro de Nossa Senhora que visita seus enfermos que também li todinho, nunca havia tantos livros em tão pouco tempo. Mas a busca por uma solução era necessária. Fazia mentalmente visita espirituais, aonde visualizava Jesus e o Dr. André Luiz em frente a incubadora, e saia uma luz azul que vinha de Jesus diretamente até a barriguinha do rafa. E falava com Jesus, que ele havia ressuscitado Lazaro que estava morte, e que meu filho ainda não estava morte, para que ele curasse ele.
Foram os piores dias da minha vida, brigávamos por tudo. E na quinta-feira pela manhã o milagre aconteceu em nossas vidas, após 72 horas o Rafinha fez coco, e a Uti toda correu. O Dr Fazio se perguntava como isso é possível? Fizeram novamente os exames de radiografia e hemograma e viram que não aparecia mais a infecção. Ligaram para o Dr Uenis para falar do quadro dele, e ele respondeu que não irria operar ele novamente, não queria judiar do bebe. Os médicos plantonistas insistiram, e enviaram fotos do Rafinha e exames por mensagem no celular dele. Foi quando ele se convenceu e pediu para mudarem o soro dele e fazer enfuzão de plaquetas, prepara-lo para nova cirurgia. No Sabado pela manhã a DR Ana Cristina que é filha do DR. Uenis, veio fazer as avalições dos bebe que iam passar por cirurgias, um dele era o Matheus Camargo (Teteus), aí pedi pra ela um tempinho pois queira ler uma passagem do livro que estava lendo e achei necessário lembra-la. Lá falava assim, de que valem os médicos nos santuários, aonde vão todos os doentes que foram desenganados por ele. Que era para os médicos tratarem cada paciente como se fosse um ente querido de sua família, para que eles sentissem o amor pelo próximo.
O anestesista veio busca-lo e quando viu que era o mesmo bebe ele me olhou com uma cara de assustado. Virei e falei para ele você levou ele no outro dia e me devolveu, por favor me traga ele de novo. Ele sorriu meu encabulado. Levaram ele para cirurgia novamente, e quando abriram a barriguinha tiveram a maior surpresa, Deus se mostrou bondoso como ele é, e o intestino do Rafinha estava todo vivo, como se nada tivesse acontecido. A equipe que já tinha feito a primeira cirurgia, nem acreditava que ele estava voltando para o centro cirúrgico, e depois todos presenciaram o milagre da vida. Conheci a Angélica que trabalhou no centro cirúrgico, e estava gestante dos gêmeos, e na primeira cirurgia do Rafinha não estava presente, e quando ficou sabendo também não acreditava no que estava acontecendo. Mas isso só fiquei sabendo algum tempo depois, quando os gêmeos nasceram e por ironia do destino nos encontramos na uti.
Rafinha ficou mais dias na Uti em jejum absoluto (tadinho), total de 21 dias de jejum. E isso me apavorava, pois quando ele voltasse a receber alimento eu tinha que ter leite para alimenta-lo, mas como fazer isso se o leite secou no instante que tive a notícia de sua doença. Foi uma corrida contra o tempo, e muita ajuda das mães e dos pediatras da uti.
Tomei remédio prescrito pelo pediatra para ter leite, mas o mesmo não vinha na quantidade que era antes. Mas me virei, pois, o propósito era maior que eu.
Quando ia pra sala de ordenha (isso mesmo gente sala de ordenha, aonde as mamães tiram o leite materno para seus filhos), lá era um lugar que eu sempre me distraia. E via as mães tirando muito leite e eu nem 10 ml, aí eu que sempre ria e brincava com todas, fiquei calada e triste. Mas o legado já existia, e elas me deram forças para superar isso. E foi assim de ml em ml que consegui encher novamente uma chuquinha. Uma por todas e todas por uma, esse era nosso lema.
Continua....