Mundo Adaptado
Mundo Adaptado
Você procura por
  • em Publicações
  • em Grupos
  • em Usuários
VOLTAR

As dificuldades no mercado de trabalho para o PcD e demais adaptações a serem discutidas.

As dificuldades no mercado de trabalho para o PcD e demais adaptações a serem discutidas.
Jacson Marçal
set. 6 - 8 min de leitura
000

Hoje em dia ainda se torna muito difícil a visão da inclusão,  capacitação e profissionalização de Autistas, pessoas com Deficiência e demais associações. 

Por experiência própria, hoje com mais de 30 anos de vida passei por uma época onde mesmo com um diagnóstico de deficiência ativo (Visão Monocular) tive várias dificuldades para me adaptar a esses novos empregos, dentro de minha características Autística iniciei minha jornada de trabalho aos 16 anos de idade, quando consegui assinar minha primeira carteira de trabalho, na época era possível com essa idade iniciar no mercado de trabalho.

No primeiro emprego, comecei como estoquista em uma empresa de materiais elétricos, um trabalho simples mas muito importante para meu aprendizado, em pouco mais de uma semana já tinha decorado todo posicionamento dos materiais e suas ordens para separação de pedido, lembro que mesmo pequena essa loja tinha mais de 10.000 produtos de diversas marcas e utilidades. Logo após aprender uma forma única eee identificar e localizar esses produtos,  o responsável pelo estoque aparentemente ficou assustado e pediu para administração me colocar para apoio ao T.I da empresa pois tinha notado uma capacidade gigantesca de aprendizado e agilidade com demandas manuais e tecnológicas. 

Aqui podemos abrir 2 pontos importantes;

1° O medo do gestor em me manter na atividade refletia uma possível superação nas atividades, incluindo agilidade na separação de produtos, isso deixou um espaço para essa mudança. 

2° Se fosse um Autista ou outro PcD, deveríamos manter o treinamento ou apenas procurar formas de integração para todo aquele cenário?

Com essas duas observações podemos notar uma inexperiência por parte da administração e do setor humano organizacional,  fatores primários avaliativos não foram levados em consideração nessa empresa para tais abordagens. O tempo passou logo já estava dominando o suporte e apoio nessa empresa, ao mesmo tempo já fazia também trabalhos de outros setores como contas a paga e a receber, estava fazendo serviços bancários, movimentação de alto valor para depósito, de maneira manual, sem nenhum suporte ou segurança, porém a empresa continuava me repassando atividades aleatórias, algo típico para época um Auxiliar Administrativo com excesso de atividades, após 2 anos, já iniciando minha faculdade de Humanas, decidi mudar de emprego. Foi aí que tudo mudou.

Em uma empresa multinacional, do ramo de produtos domésticos, utensílios dos mais variados, novamente a oportunidade era para iniciar no estoque, porém após algumas semanas eu fui promovido para área de pós vendas, novamente estava sendo bem avaliado. Novas atividades foram passadas, novas demandas,  cheguei a ganhar o prêmio de melhor pós atendimento ao cliente pela renomada empresa. Porém assim como todas as outras a empresa se mostrou falha quando o tratamento com um Autista assim como qualquer pessoa relacionada a sobrecarga do trabalho.

Recebi uma oferta de mudança de estado, aquilo era muito difícil,  rapidamente disse que não poderia no momento, não queria mudar de cidade. Logo após minha negativa, meus documentos, minha carreira e meu salario foram roubados da minha gaveta, a empresa não prestou nenhum suporte, lembro que na época tudo ficou muito confuso por fim,  muito irritado pedi demissão. 

Notava que as empresas geravam processos para que tudo que fosse feito tivesse ressaltados únicos e exclusivos para seu próprio interesse, que não tinham filtros para lidar com um PcD visual, com autismo ainda não diagnosticado. 

Foi então que decidi me aventurar na área de Call center, primeira etapa, provas, testes, passei tranquilamente, um treinamento longo de 1 mês, para um suporte ao atendimento de clientes que precisavam de apoio direcionados e que queriam por tudo cancelar seus serviços, essa empresa determinava tempo de atendimento, pedia que todos seguissem a risca seus horários,  possíveis inflexibilidades acarretaria em sanções disciplinares que por vezes poderia lhe levar a demissão. Após um ano trabalhando e conseguindo os resultados, fui promovido para um setor novo ao invés de receber ligações eu fazia, tinha ótimo rendimentos, se notava que atividades repassadas assim como são feitas em reforços para autistas surgiam com forte posicionamento de incentivo. Porém faltava gestão, novamente as minhas vitórias e conquistas não tinham o devido valor, a minha ansiedade começava a aparecer naquele ambiente robótico sem novas perspectivas foi então que decidi sair após 3 anos.

Nesse novo emprego, que já tinha um convite formal sobre meu perfil,  eu novamente trabalharia em uma multinacional do ramo de bebidas, começando como Auxiliar administrativo,  em pouco meses me certifiquei e me especializei em várias áreas que envolviam marketing,  trade, comercial e relacionado, logo já estava recebendo promoções,  até chegar no nível estável de supervisão. Nessa empresa já com meus 22 anos, estava muito sobrecarregado, notava que quanto mais fazia o que perdiam mais dores, sufocamento e ansiedade que recebia,  a gestão se mostrava ausente, inapta, sem nenhum preparo para me apoiar, foi aí que percebi a extrema sobrecarga nessa nova empresa, as demandas não paravam, tinha o próprio Bullying (Já contei para vocês) que eu recebia por conta da visão monocular, por causa da minha agilidade nas demandas era dito como estranho e gênio das demandas, filho do diretor, por fazer atividades que eram de responsabilidade apenas dele, a empresa passou por 3 migrações em todas tive diversos gestores mas em nenhum momento o recurso humanos da empresa se mostrava apta ao diálogo com os funcionários.  Por fim cheguei a fazer currículo para um diretor de uma multinacional que tinha medo de ser demitido,  isso me deixava confuso eu fazia atividades para o diretor que era de sua responsabilidade ao mesmo tempo que fazia centenas de demandas agrupadas,  atendendo mais de 40 revendas, 30 Gerentes de vendas e 5 Gerentes Regionais estava no meu extremo. Um pedido de mudança,  novamente negado por mim para uma região sem suporte me deixou totalmente instável, com mais e mais atividades que não paravam de chegar eu travei,  fui demitido.

Eu estava com 24 anos precisava tentar novamente, entre em outra grande empresa agora no ramo dos transportes, alimentos e diversos seguimento, um Gerente de Trade marketing que responderia diretamente o diretor, algo simples a princípio, se não fosse o azar de novamente cair com um diretor e um gerente de vendas que não conseguiam se comunicar, foram 2 cansativos anos, criei novas marcas, produtos, ajudei a empresa a se reerguer, até que não aguentei, os xingamentos do diretor, a falta de profissionalismo do gerente, a cobrança incansável sem preparo, a falta de tato para lidar com pessoas com deficiência, descobri meu autismo nessa última empresa ao 25/26 anos de vida, nada se encaixava, os gestores, a direção não sabia lidar com os próprios funcionários, me vi em meio ao caos, até um dia, indo trabalhar nas minhas férias a pedido do então diretor entrei em pânico, tive um Burnout, travei, fui internado, sentia falta de ar, sentia dores, mais tarde seria diagnosticado com Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno obsessivo compulsivo, Transtorno Doloroso Somatoforme,  Fibromialgia,  Burnout,  Pânico e Autismo. 

Conheço várias pessoas assim como eu que tiveram o diagnóstico tardio, ou simplesmente tem o diagnóstico e não conseguem emprego, percebo que a falta de preparo de muitas empresas corroboram para as Comorbidades e Condições Coexistentes associadas ao Autismo, hoje luto pela conscientização do nosso meio, para que empresas se preparem para lidar com os autistas,  com as pessoas com deficiência, indiferente das suas limitações, pois hoje no Brasil vejo um abismo gigantesco sobre a inclusão verdadeira para nosso meio e para com a sociedade, precisamos que a equidade seja colocada em prática, que as cotas sejam ajustadas e que esses gestores tenham uma verdadeira preparação para trabalhar com PcD, que todo setor humano organizacional das empresas se capacitem para essa nova leva de PcDs, Autistas, Adolescentes e adultos que querem apenas ter direito e acesso a um trabalho digno, sem aproveitamento ou sobrecargas indevidas.

 

 


Denunciar publicação
    000

    Indicados para você