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A vulnerabilidade do prematuro

A vulnerabilidade do prematuro
Andreia Oliveira
jul. 15 - 4 min de leitura
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O momento de silêncio, assim que o bebê nasce, é de alta expectativa. São milésimos de segundo até que venha o tão anunciado choro... E O CHORO NÃO VEIO, neste caso a equipe médica precisa intervir para reanimar o bebê que não tem maturidade suficiente para respirar... e ela, A RESPIRAÇÃO, um ato tão corriqueiro do nosso dia a dia, e tão essencial para manter-nos vivos...

Meu filho nasceu de 27 semanas, fruto de uma terceira gestação, seguida de duas malsucedidas e algumas cirurgias para reparar meu útero ... foi uma gravidez de ALTO RISCO, com idas e vindas ao pronto socorro, muito sangramento, vômitos e a pior sensação do mundo o MEDO, mas acompanhada da “melhor”, poder a cada ida, fazer um novo ultrassom e ver seu desenvolvimento que seguia BEM.

Apesar de todo cuidado, toda medicação via oral, vaginal, injetável, transdérmica... enfrentamos o estouro da bolsa gestacional antes (bem antes) do esperado, um misto de sensações, adrenalina, ansiedade, o chão desaparece dos pés, um desespero tão abrupto que testa toda nossa existência e resistência....

Passado o susto surge a esperança, a fé, sensações simultâneas de fragilidade e força, choro e riso...

Foram exatos 60 dias de UTI neonatal, com quedas de saturação e de batimento cardíaco, colapso seguido de hemorragia pulmonar, transfusão de sangue e plasma, exames auditivos sem retornos. Dias longos (muito longos), 12 horas ao lado da incubadora, dúvidas insanas entre beber muita água para produzir leite, ou beber pouca água para não precisar ir tanto ao banheiro e poder ficar ali naquela cadeira desconfortável, mas o melhor lugar do mundo, naquele momento, por ser ao lado do filho amado, ter que ir dormir em casa (ou só desmaiar de cansaço), comer (ou engolir algum alimento) ...

Dizem que as melhores lições aprendemos pelo AMOR ou pela DOR, ali foram os dois ao mesmo tempo, aprendizados jamais esquecidos... como pode um ser tão pequenino nos dar tal lição de vida, de superação, nos fazer jogar no lixo todo o egoísmo que temos por natureza, de nos transformar em pessoas tão melhores mediante a nós mesmos e ao mundo, de mostrar como a VIDA é tênue e como é importante lutarmos por ela, que um dia após a cesárea não segura uma mãe de prematuro em repouso, que comprimir as mamas na ordenha não nos transforma em animais, que Deus está sempre conosco e se mostra de formas tão misteriosas mesmo quando sequer temos forças para orar (mas se as lágrimas são palavras traduzidas em oração acho que falei bastante com Deus)... 

A alta hospitalar chegou e finalmente o dia de ir para casa, a parte “boa” desta jornada: não precisei curar o cordão umbilical (algo que tinha medo), aprendi  a trocar fraldas, dar banho, amamentar, enfim todos os cuidados básicos que a maioria aprende na prática... E conheci pessoas incríveis: médicos, enfermeiras, fonos, fisios, recepcionistas, faxineiras e principalmente MÃES e FILHOS GUERREIROS que com ou sem mantermos contato estarão sempre no meu coração.

Meu filho é o meu milagre, minha melhor decisão, meu tesouro mais precioso, meu orgulho, minha dádiva, o significado mais legítimo e intenso da palavra AMOR...

Atualmente, próximo de 5 anos, faz tratamento para prevenção da asma e passou por algumas crises respiratórias neste meio tempo, houve atraso na fala, fez acompanhamento com fonoaudiólogo e otorrino, no entanto foram descartados problemas auditivos, demorou um pouco para caminhar, teve o seu tempo para aprender algumas coisas, mas só tenho a agradecer pela criança perfeita que ele é, meu ALAN.


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