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Dificuldades motoras no Autismo.

Dificuldades motoras no Autismo.
Jacson Marçal
ago. 24 - 8 min de leitura
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Dificuldades motoras no Autismo.

Estudos recentes apontam que a maioria dos Autistas, cerca de 87% devem apresentar alguma dificuldade motora, que pode variar desde uma dificuldade em escrita até características que geram movimentos distintos ou repetitivos. Muitas vezes as pessoas esquecem que essas observações devem ser mantidas para uma possível apoio terapêutico ou médico profissional,  assim como ocorre em diversos outros transtornos como Down, TDA, TDAH e relacionados.

As últimas pesquisas reforçam a necessidade de se manter um bom acompanhamento médico e terapêutico a fim de evitar problemas futuros por questões de uma desordem maior, uma possível somatização e espelhos negativos como padrões musculares que afetam um possível maior desordem. Já fiz aqui uma publicação sobre o Sistema Muscular e relacionados a uma desordem maior que ligou meu estágio de dores a uma relação a Fibromialgia adquirida por anos no processo de camuflagem.

Sendo assim Jacson quais os principais tipos de atividades motoras que Autistas podem apresentar?

Podemos apresentar problemas de desordens motoras, com padrões de psicomotoras finas, manipular objetos com as mãos e escritas. Essa dificuldade pode ser presente em movimentos que precisamos selecionar um lado, como esquerdo ou direito, algumas pausas são vistas antes de selecionar tais ações. Eu por exemplo costumo repetir no pensamento o lado de escolha antes de seguir um padrão de direção, essas pequenas escolhas podem em uma sobrecarga maior gerar confusão e desordens sensoriais maiores. Outras características são vistas em posições que necessitam de equilíbrio pelo sistema de regulagem ou vestibular,  processos esses que geram uma repetição para tentativa de centralizar o corpo flequicionando a ponta dos pés. Vale ressaltar que essas desordens podem variar de níveis leves a graves.

Com qual idade essas dificuldades motoras se apresentam Jacson?

Os mesmos estudos apontam que bebês de 1 mês de vida que apresentam movimentos normais aos 3/4 meses de vida podem apresentar perdas de movimentos ou desordens relacionadas a sua estrutura motora. Com 4 meses de vida uma criança típica já consegue manter uma regulação centrada, onde sua cabeça terá um alinhamento regular, vale ressaltar que esse extremo de desordens podem ser associadas ao nível e tipo de autismo, onde mesmo que tenhamos o autismo presente, crianças podem desenvolver uma auto regulagem, iniciando desde cedo possíveis camuflagens onde os extremos podem se encontrar. Já com 14 meses de vida uma criança típica terá plena capacidade de andar, em contrapartida uma criança Autistas poderá não andar ou apresentar estereotipias relacionadas a tais movimentos como desordens no compasso do movimento ou necessidades aparentes para movimentos não assimétricos. 

Existe a possibilidade de fatores genéticos estarem ligados a características motoras no Autismo?

Sim, algumas mutações são mais presentes em Autistas, conforme estudos que relacionam a carga genética e epigenética no Autismo, um exemplo observado é que a cada um mês de atrasos motores relacionados à capacidade de andar no autismo terá uma representação de 17% na carga genética, conforme estudo de 2017 por Bishop, essas variações podem gerar maiores ramificações como a síndrome de Phelan-McDermid que geralmente apresenta baixo tônus ​​muscular além de crianças com síndrome dup15q que tendem apresentar a mesma característica.

Embora os problemas motores tendem a ser mais graves em pessoas autistas com deficiência intelectual , eles podem afetar qualquer autista nesse espectro. Por exemplo, pessoas com autismo que carregam mutações espontâneas têm maior probabilidade de apresentarem problemas motores , independentemente de terem deficiência intelectual, de acordo com um estudo de 2018 pela Fuentes CT et al. Neurology. Outros estudos descobriram que as crianças do espectro têm mais problemas motores do que os controles típicos quando esses são comparados pelo quociente de inteligência sendo assim não existem balizadores para classificar apenas autistas com D.I.

O que está ocorrendo no nosso cérebro Autístico Jacson?

As diferenças na conectividade entre as regiões do cérebro podem ajudar a explicar as dificuldades motoras nos autistas. Por exemplo, crianças com autismo diminuíram a sincronia na atividade entre suas regiões visuais e motoras; quanto menos sincronização houver, mais graves serão seus déficits sociais, com base em uma escala padrão. Seus problemas motores também podem resultar em uma conectividade menor entre o lobo parietal inferior, uma região envolvida na coordenação olho-mão; e o cerebelo , que auxilia na orientação e correção dos movimentos. Outras evidências implicam conexões fracas entre as regiões sensoriais e motoras e atividade atípica em uma rede importante para o planejamento motor.

Autistas também costumam descartar algumas informações visuais e confiar mais na propriocepção, ou em seu sentido interno da posição do corpo, do que as pessoas comuns quando aprendem a usar uma nova ferramenta. Quanto mais as pessoas com autismo dependerem da propriocepção, mais graves são seus déficits sociais, embora os pesquisadores ainda não tenham certeza do real motivo que cause esse efeito.

Como podemos medir essas características motoras no Autismo?

Alguns testes padronizados podem revelar se uma criança pode fazer certas atividades motoras. Porém tais testes não são totalmente fidedignos para avaliação de um Autista. Além disso, a maioria das atividades atuais foram projetadas para crianças típicas, o que gera uma extrema dificuldade avaliativa para crianças no espectro sendo mais complexo em criança com deficiência intelectual ou cognitiva.

Alguns pesquisadores têm desenvolvido novas maneiras de sondar problemas motores, usando a escrita com interações em canetas com suporte, realidade virtual , captura de movimento com sensores e câmeras infravermelhas , acelerômetros e giroscópios (para medir a intensidade e o ângulo nos movimentos dos membros), tapetes equipados com sensores de pressão (para detectar diferenças nos movimentos) e eletromiografia (uma técnica que mede a atividade elétrica dos músculos). Mas os pesquisadores afirmam ainda que estão longe de padronizar essas medidas. Vale ressaltar que a participação de um terapêutico ocupacional é de extrema importância para tais sondagens.

Como podemos tratar os problemas motores no Autismo?

Existem diversas maneiras, o mais assertivo é iniciar o diagnóstico do autismo o mais cedo possível,  com isso os profissionais que efetuam a sua abordagem primária terão espaço para um direcionamento Multidisciplinar para avaliações e terapias adequadas, outro ponto é não aceitar tais desordens como algo comum no autismo, pois todo esse peso que a criança e adolescente carregar por sua vida terá um impacto maior na somatização em sua fase adulta. Estudos apontam que apenas 32% dos autistas recebem o devido apoio para tratamentos direcionados aos problemas motores, muitas vezes levando em consideração a opinião de familiares que tais questões são mínimas e não geram um impacto negativo no futuro. Aqui devemos fazer a separação do que poderá ser aproveitado dentro do padrão de Stimming e o que devemos abordar como características negativas para estereotipias que geram inclusive alto agressões e mutilações. 

Com essa abordagem, sempre direcione o Autistas para atividades que gerem um relaxamento e trabalho muscular, tais como ioga, artes marciais, terapias adicionais que envolvam por exemplo a música, o meio ambiente, a natação entre diversas outras atividades. O mais importante é não deixar o Autista parado perante a tais desordens, evitando um descontrole e desordem maiores no futuro.

Autista Savant Jacson Marçal @jacsonfier

Referências:

Bhat AN et al. Phys. Ther. 100 , 633-644 (2020) PubMed

Bhat AN et al. Phys. Ther. 91 , 1116-1129 (2011) PubMed

Karmel BZ et al. Pediatrics 126 , 457-467 (2010) PubMed

Flanagan JE et al. Sou. J. Occup. Ther. 66 , 577-585 (2012) PubMed

Gernsbacher MA et al. J. Child Psychol. Psychiatry 49 , 43-50 (2008) PubMed

Bishop SL et al. Sou. J. Psychiatry 174 , 576-585 (2017) PubMed

Fuentes CT et al. Neurology 73 , 1532-1537 (2009) PubMed

Sstandley CJ et al. Nat. Neurosci. 20 , 1744-1751 (2017) PubMed

Thompson A. et al. Biol. Psychiatry 81 , 211-219 (2017) PubMed

LeBarton ES et al. Infant Behav. Dev. 44 , 59-67 (2016) PubMed


 


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