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O dia em que me tornei "irmãe"

O dia em que me tornei "irmãe"
Viveane Yee Chin
ago. 24 - 3 min de leitura
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Lembro que desde nova minha mãe pedia para eu brincar e cuidar da Cintia, três anos mais velha do que eu, minha irmã com deficiência intelectual. Mesmo eu percebendo que a Cintia não acompanhava muito bem as minhas brincadeiras sempre tentava motivá-la a participar também.

A minha relação com a Cintia foi mudando com o passar do tempo, sempre de muito carinho, mas ao mesmo tempo de distanciamento. Minha mãe sempre assumiu os cuidados com ela, servia as refeições com tudo bem picadinho, auxiliava no banheiro para limpá-la, dava banho, servia bebidas no copo de plástico, a trocava e lhe calçava os calçados, penteava seus cabelos, escovava seus dentes, ajeitava a cama para ela dormir que sempre ficou no quarto com meus pais, desde quando ela era pequena...

E como era imensurável a força da minha mãe, sua disposição e garra! Ela não titubeava, ela não hesitava...o que estivesse ao seu alcance ela faria para o bem-estar de sua filha! Me peguei pensando várias vezes como seria sem a minha mãe. Mas, logo esse pensamento se dissipava e eu voltava à minha rotina de trabalho, estudos, saídas com amigos, planejando uma viagem para estudar inglês...

Porém, por vezes, subestimamos a nossa vulnerabilidade e após uma semana com a minha mãe no hospital por conta de uma hepatite, vivi o dia mais triste da minha vida: minha mãe faleceu.

Em um período menor que 8 anos, havia perdido o meu pai e minha mãe. Senti pena de mim mesma! Não tinha mais sonhos, havia desistido de constituir a minha família, não tinha boas perspectivas com o futuro, minha maior preocupação era cumprir o que um dia eu havia prometido à minha mãe: cuidar da Cintia na ausência dela.

Passados 3 anos, estou com 31 anos, me considero “irmãe” da Cintia com 34 anos e meiguice de uma criança de 3 anos. Precisei passar por um longo processo de adaptações, amadurecimento e consciência das minhas responsabilidades. Minha liberdade vai até onde começam as necessidades da Cintia. Tenho meu ponto de vista e avalio o mundo através dos olhos dela também. Eu não a gerei, mas tenho absoluta certeza que o instinto materno e protetor para o bem-estar da Cintia faz parte de mim agora. Cada evolução, por menor que seja, é um motivo de vitória e esperança.

Graças a Deus as coisas vão se ajeitando aos poucos, as dificuldades vão ficando contornáveis. As condições psicológicas e emocionais não permitem que eu desanime perante qualquer desafio. Mas, antes desse progresso, eu precisei assumir que precisava de ajuda. Precisei antes disso, entender a minha missão com a Cintia também.

Sou otimista com tudo ainda que pode melhorar a qualidade de vida dela. Espero que ela possua opções de produtos, serviços que atendam às necessidades dela que, consequentemente, as minhas serão atendidas também.


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