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Fissurada pelo Ravi ♥️

Fissurada pelo Ravi ♥️
Kharimã Dominschek
jan. 26 - 7 min de leitura
020

Meu nome é Kharimã, tenho 32 anos e vim compartilhar a dor e a delícia de ter recebido de presente um fissurado.

2020 foi um ano bem complicado, no início do ano descobri que estava grávida, uma gestação não planejada, eu jamais me imaginei mãe, nunca quis mesmo. De repente uma pandemia. Em meio ao caos na minha cabeça diversas complicações na gestação, diabetes, hipertensão, fator RH do sangue, uma gestação de alto risco com acompanhamento devido... Tudo pelo SUS, pois não tinha plano de saúde. O medo de ser mãe, a insegurança em meio ao caos dessa pandemia, trabalhando até o último dia de gestação e pedindo a Deus para que desse tudo certo.

Fiz quase todos os exames possíveis, toda semana eu tinha consulta para acompanhamento do pré natal, o único exame que não consegui fazer foi a ecografia morfológica... Pois bem, no dia 26/08/2020 fui fazer uma ecografia doppler de rotina, onde foi constatado que eu estava sem líquido nenhum na placenta e eu não tive perda de líquido notável, ok, internamento de urgência para uma provável cesária de urgência, estava de 37 semanas e com o colo fechadinho. Ao fazer a cardiotocografia e ver que o bebê estava bem os médicos decidiram induzir o parto normal e se em 24 horas o Ravi não viesse eles fariam a cesária. Depois de 12 horas de indução entrei em trabalho de parto e finalmente meu Ravizinho nasceu, as 6:10 da manhã do dia 27/08/2020 com 3,080 kg e 47 cm, perfeito, chorou e assim que colocaram ele em meu colo ele parou, o pai dele chorava de alegria, eu ainda não tinha conseguido ver o rostinho dele, quando o pai dele mudou totalmente a expressão da felicidade para a preocupação, perguntando o que era na boca dele, eu desesperada não conseguia ver, quando a equipe percebeu que nós não tínhamos conhecimento de que nosso bebê era um fissurado lábio palatal, prontamente retirou ele do meu colo e o levou.

Foi um momento muito intenso, passando da alegria para o medo, a preocupação, a insegurança... 

Ravi foi levado direto para a UTI neo, onde passaram sonda para alimentação, pelo fato de eu não ter conhecimento da condição dele isso atrapalhou um pouco o processo de alta dele... Ele ficou 20 dias na UTI, aprendendo a mamar, perdeu muito peso, tirava sonda, colocava sonda, eu também aprendendo a amamentar ele na chuquinha, pois ele não conseguiu pegar o seio, enfim, foram dias terríveis, em razão da pandemia eu não podia ficar 24 horas com ele, mas chegava todos os dias cedo e ficava até o fim do dia, até que ele foi ficando mais forte e conseguindo mamar mais e veio para casa no dia 16/09/2020. Junto com ele veio o medo, de não conseguir, de não ser suficiente pra ele, medo do futuro, de tudo que ele ainda vai passar, mas foi ele mesmo quem me deu força, mostrando a cada dia a vontade dele de viver, a alegria, a inteligência... Iniciamos já no dia seguinte da alta o acompanhamento no CAIF - centro de atendimento integral ao fissurado lábio palatal - e que lugar incrível, se ainda havia medo em mim, foi ali que meu coração acalmou... Fomos recebidos como uma verdadeira família, pois o Ravi fará um longo tratamento de pelo menos 20 anos ali.

Ainda passamos por um susto horrível quando ele tinha dois meses, engasgou mamando em meu colo, achei que perderia ele quando o vi roxo, olhos parados, meu deus que desespero, mas graças a Deus e ao siate nos prestando todo atendimento por telefone até chegar em casa conseguimos efetuar a manobra e desengasgar ele.

E hoje o Ravi mais nos ensina do que nós a ele, com suas adversidades, ele é um menino alegre, calmo, inteligente, nos encanta a cada dia que passa. E essa relação de mãe e filho que eu jamais imaginei ter me transformou, hoje com certeza sou outra mulher, muito mais forte, mais determinada, destemida, mais serena e com muito amor dentro de mim. 

Ter um filho fissurado com certeza é um presente de Deus, Ravi veio para nos ensinar tanto, sobre empatia, amor ao próximo, sobre ser forte sempre... Hoje estamos ansiosos pois a primeira cirurgia dele está marcada para 18/02, um passo de cada vez, uma luta por dia, ele fará várias cirurgias ao longo de sua vida, e eu garanto, ele me da mais força do que eu poderia ter sozinha, sei que não será fácil, mas eu sempre estarei ali, com ele, por ele.

O Ravi me mostrou um novo mundo, mundo esse que eu não enxergava antes da sua chegada, ele me aproximou de pessoas que eu nem imaginava e pessoas que eu sempre tive por perto se afastaram, e está tudo bem, porque por aqui só cabe quem tiver muito amor pra dar.

Hoje eu digo que a vinda dele virou minha vida de cabeça pra baixo, mas eu já nem lembro como era a vida antes dele.

Não foi fácil, não é fácil cuidar de um bebê que inspira cuidados especiais, não é fácil a gente entender o motivo, é normal se questionar, tentar encontrar o motivo, achar onde foi que erramos, porque ele veio assim, o que fizemos de errado, mas na verdade não tem nada de errado, no Brasil em cada 700 crianças nascidas, uma tem fissura lábio palatina, e quando a gente para de se questionar e começa a entrar nesse mundo, a vida toma um rumo diferente, independente de qualquer condição, devemos viver um dia por vez e sermos gratos sempre por tudo aquilo que temos.

Hoje eu só posso dizer que não reconheço a Kharimã que existia antes da vinda do Ravi, meu solzinho, meu menino lindo e amado, me transformou e continua a transformar a cada dia que passa, eu com absoluta certeza sou uma pessoa melhor depois de me tornar mãe dele.


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