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A espera do Milagre!

A espera do Milagre!
Nótlia Zirtaeb
ago. 31 - 11 min de leitura
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Todos, sem exceção, independente da idade, condição financeira ou intelectual, já passaram por momentos bons, outros menos bons...e alguns que de bom não havia nada! E conosco não poderia ser diferente!

Lembro do Alisson (meu esposo) tocando meu ombro ainda na maternidade enquanto eu rezava ao lado da encubadora onde Cecília entrou em observação no segundo dia de vida por apresentar uma distensão abdominal e uma hipoglicemia que não estabilizava.

Lembro do susto quando me disse: "o SAMU está vindo buscá-la para levar à UTI em Pato Branco" (a cidade mais próxima com UTI neonatal, pois nasceu em Palmas/PR e lá não havia este recurso).

Não entendi o que estava acontecendo... como assim... UTI? Porque?
Não tínhamos tempo para muitas explicações, era preciso catar rapidamente tudo do quarto, tudo aquilo que foi cuidadosamente arrumado, preparado, o enfeite da porta, as lembrancinhas do nascimento confeccionadas uma a uma com todo carinho, tudo foi sendo socado nas malas. Alisson, e eu, com menos de 48h de ter dado a luz, corríamos pelas escadas levando as coisas para o carro (usar a rampa levaria mais tempo), era preciso arrumar tudo antes da ambulância chegar!

Imagine um gráfico, esses que os jornais sempre mostram com uma linha que sobe e desce de acordo com os dados coletados sobre o assunto apresentado... nós estávamos lá no topo do gráfico, no ápice da felicidade, até que a linha teve uma queda, enorme para aquele momento, mas esta era na verdade apenas a primeira oscilaçãozinha em declínio, outras maiores ainda estavam por vir!

Chegando na UTI passado da meia noite, por volta das  duas da madrugada, ainda faltavam algumas horas para completar 48h de vida fora do ventre, e lá estava ela, toda cheia de fios e acessos venosos pelo corpo, sonda, oxigênio! Uma cena típica de seriado médico, sim, achamos que essas coisas acontecem só na televisão, até que um dia você cai de paraquedas num cenário igualzinho, só que sem as câmeras, holofotes e aquela voz do diretor dizendo: "corta, a cena foi ótima"... isso não acontece, porque ali não há atores representando, é real, e a ficção não chega nem no dedinho do pé da realidade!

Nossa linha do gráfico desceu mais uma vez ao ouvir a médica do plantão que a recebeu, dizer que ela não estava bem, que estava com uma infecção generalizada, que já estava sendo medicada e já haviam feito a coleta para diversos exames!

Uau!!! Meu bebê, que deveria estar no berço esperando as visitas na maternidade agora se encontra numa UTI em estado grave! Como? Porque? Estão aí duas das inúmeras perguntas que ainda me faço e não encontro resposta!

Nossa linha do gráfico só despencava, todo dia ela descia um pouquinho mais, foram momentos difíceis, outros neutros e alguns tensos, como em um dos horários de visita (3 em 3 horas para dar o meu leite pela sonda) quando teve uma convulsão e precisou voltar para o oxigênio dedicado (parecia um capacete de astronauta), ela havia a poucos dias saído da ventilação mecânica, fiquei tensa ao vê-la daquele jeito, temia que voltasse a ser entubada! As enfermeiras vendo meu nervosismo autorizaram a entrada do Alisson (o pessoal da UTI era muito querido!)...me assustei com a presença dele, será que era grave e não me avisaram! Pois não era horário de outras visitas, apenas das mães para amamentar... e de repente, toda aquela parafernália começou a apitar e ela ficou roxa acinzentada... na nossa frente... imediatamente a enfermeira corre chamar o Dr de plantão que estava no repousou, era noite,  enquanto outra enfermeira me puxava pela cintura e nos coloca para fora da sala!
...  ...  ...

É impossível descrever o que senti, foi a primeira e única vez que achei que ia perdê-la! Eu sentia dor para respirar...Alisson e eu nos abraçamos e o choro era impossível de controlar... um tempo depois, que pareceram horas, a enfermeira veio nos chamar e já nos acalmou: "ela está bem! Está estável"
Mas nossa linha do gráfico mais uma vez caiu, ela voltou a ser entubada!

E os dias foram passando...e nossa linha ia percorrendo um caminho descendente, lentamente. Houve um período que nosso gráfico parou, a linha não subia e não descia, era estável. Estável é melhor que descer, não é mesmo? Mas também é pior que subir! Foram dias em que os médicos nos horários de visita ao leito diziam: " Ela está estável"! E esta era a única coisa boa!

E assim os dias foram passando até que acredito que o inexplicável, ou melhor, a oração feita com fervor, é a única forma de explicar...foi quando um dos médicos ao  chegar no horário da visita, jogou os papéis dos exames numa mesinha de apoio que ficava aos pés do leito, deu uma profunda respirada, e disse: "não sei o que vocês estão fazendo, mas continuem!"
Ele estava se referindo, que sem saber o porquê os sinais vitais, os órgãos e tudo mais estavam começando a responder como deveriam...ela estava melhorando!!! Nossa linha do gráfico finalmente começou a subir!!!

E é aqui o ponto onde quero chegar!

Há um ditado que diz: "as orações feitas dentro dos muros de hospitais são mais sinceras, verdadeiras que as feitas dentro de igrejas!"
E passando por esta experiência, acredito que esta afirmação acima seja a mais pura verdade!

Viemos de famílias católicas, Alisson e eu, temos nossa fé em Deus e Nossa Senhora de Fátima como intercessora!
Não estou aqui para pregar sobre religião ou crenças, apenas para dizer que não devemos nunca duvidar do poder da "fé"!
Segundo o site InfoEscola: "Ter fé é crer firmemente em algo, sem ter em mãos nenhuma evidência de que seja verdadeiro ou real o objeto da crença. Assim, a palavra fé pode ser entendida como acreditar, confiar."

Quando o Dr chegou e nos disse: "não sei o que estão fazendo, mas continuem"... é porque algo bom, e sem explicação havia acontecido, e como o conceito acima descrito diz, eu não tenho como provar que a fé a salvou! Não sou nem louca de dizer isso, pois se não fossem as inúmeras pessoas que interviram, ela com certeza não estaria aqui hoje!

Mas então porque dar créditos a fé! Se não posso provar, tocar...quem me diz que rezando ou não, seu sistema imunológico não encontraria a solução por si só sem a interferência Divina invocada?

Eu não sei!!! Confesso que não sei!!!

Só sei que quando nos deparamos com situações de dificuldades extremas, invocamos "Ele" e pedimos um milagre!

Mas o que compreenderia este "milagre"? Que tudo ficasse bem, que tudo voltasse a ser como o esperado, que o errado se consertasse!!! Será que o milagre aconteceu conosco?
Hoje Cecília está bem, mas e a parte de ser como o esperado, de consertar o que está errado? Ela tem uma deficiência bem significativa, o milagre não tinha que ser concluído em sua totalidade, com ela falando, sentando, andando, tendo uma vida condizente a sua idade? Então porque eu ainda chamo de milagre?

Hoje, depois de um tempo, eu vejo que os milagres acontecem todos os dias, a todo momento, nós que não percebemos, porque milagre não é a realização do que imaginamos, não é satisfazer uma necessidade ou desejo como se fosse um produto numa prateleira de loja.

Milagre é ter no momento crítico uma vaga na UTI, ter enfermeiros e médicos capacitados, é ter parentes dispostos a ceder sua casa para que pudéssemos descansar um pouquinho, é ter uma corrente de orações por pessoas estranhas, como a senhorinha que nos via estacionar todos os dias no mesmo horário o carro em frente a sua casa e nos observava indo até o hospital, um dia ela nos perguntou (curiosa como toda boa senhorinha é! - risos), e ao lhe contar, prontamente disse colocar nossa bebezinha em suas orações! É a secretária do Angiologista, (tive flebite enquanto ela estava na UTI) também se sensibilizar, e colocar Cecília em seu grupo de orações! Sem contar a família, amigos, conhecidos e desconhecidos próximos ou distantes, que em peso rezaram por sua saúde! Então como também não dar os créditos da sua recuperação à oração, à fé!!!

Hoje Cecília é do jeitinho que é! E ela sendo assim não mudou só a nossa vida, mas de muitas outras pessoas que pararam um pouco para refletir... algumas estavam afastadas da religião, e por causa dela resolveram bater um papo com o Cara lá de cima novamente, ou pela primeira vez... e quando as pessoas vêem sua dificuldade em executar tarefas simples como a de segurar a cabeça, percebem que são abençoados pela vida que tem!

Eu não encaro como um pensamento capacitista alguém pensar depois de conhecê-la: "preciso agradecer mais pelos filhos saudáveis e sem deficiência que tenho"! É completamente compreensível pensar assim, porque faz parte da maioria dos seres humanos, dar valor a algo só depois que o perde.
Não falo só de filhos com deficiência, isso se aplica em todos os aspectos, mas você não precisa necessariamente passar fome para saber o que é ter fome! Não precisa perder alguém para sempre, para perceber o quanto a pessoa é importante!

Então como dar valor, sem antes perdê-lo?
É simples, basta conhecer, observar e colocar-se no lugar de quem não o possui mais...a tal da "empatia"!

Mas voltando ao foco: Milagre, Fé...se você está numa situação difícil, não fique "esperando um Milagre" que satisfaça todos os requisitos que almeja para só então ser feliz... você pode e deve ser feliz hoje, pois o Milagre é viver... entender... aprender... e acima de tudo aceitar e agradecer por tudo o que tem, não importando o que seja!

Entender como Cecília é, ou melhor, aceitar como ela é,  não significa que desisti ou deixarei de buscar melhoras, mas é importante saber até onde ela pode chegar (ou ultrapassar este ponto e nos surpreender!)

E quanto a fé...nunca a perca de vista... pois mesmo que você pense que ela não resolverá o problema, com certeza ela acalmará seu coração!

Nótlia Zirtaeb

 


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