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A Adaptação Resiliente

A Adaptação Resiliente
Mariana Reis
abr. 26 - 5 min de leitura
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Significado de ADAPTAR (verbo)
[...] ajustar(-se), acomodar(-se) ou encaixar(-se) [uma coisa a outra].

Modificar (algo) para que se acomode, se ajuste ou se adeque (a uma
nova situação, um determinado fim, um meio de comunicação etc.).

As histórias de crianças com algum tipo de necessidade especial e que,
portanto, precisam viver em um mundo adaptado às suas necessidades, são
histórias repletas de desafios tendo em vista que vivemos em uma sociedade onde as coisas costumam ser padronizadas pra atender pessoas que são consideradas a “maioria.”
De onde será que esses pais e a própria criança tiram então essa força,
transpõem essas barreiras diárias, pra poderem conquistar o seu espaço e
viverem dignamente?

ADAPTAÇÃO COMO ALGO INTRÍNSECO AO SER HUMANO

O ser humano se adapta desde muito cedo: quando nos relacionamos com o outro, percebemos que as pessoas não são do jeito que queremos e
consequentemente os locais em que as pessoas estão também não são:
escola, trabalho, família, etc.
Por mais que a gente frequente uma escola que goste, tenha um trabalho
bacana e uma família legal, nada disso é perfeito e satisfaz todos nossos
desejos: todos têm suas diferenças e peculiaridades.

Desde cedo precisamos nos adaptar a essas diferenças, caso contrário,
teríamos que viver em uma bolha (o que é impossível, pois o homem é um ser social).
Só que as pessoas consideradas “normais”, mesmo precisando se adaptar
desde a infância, têm a vantagem de terem diante de si um mundo pronto pra elas.
Os objetos de uso diário, os acessos às vias urbanas (escadas, degraus,
altura), as vestimentas, as alternativas de lazer e hobbies (livros, música,
esportes), etc. Tudo já está disponível pra uso!

Basta esperar a maturação do desenvolvimento motor, neurológico e emocional no início da vida e sair explorando tudo que estiver ao alcance.

Imagine então como é desfrutar de todos esses itens que eu descrevi acima,
mais uma dezena de outros tantos, em um mundo que não foi pensado pra
você?!


Um exemplo bemmmm sutil: canhotos.

Canhotos são a minoria, portanto os objetos são feitos em sua maioria para os destros, trazendo assim uma dificuldade no dia-a- dia de quem utiliza a mão esquerda.
Pense então numa sociedade que foi projetada quase que completamente para pessoas que andam, enxergaram, ouvem, escutam, respiram sozinhas, comem sozinhas, etc. Como fica essa minoria? (que na verdade são muitos!).
Aí é que entra em ação a palavra adaptação e o nome que batiza esse projeto: crianças com necessidades especiais e suas famílias, ensinam ao mundo, com toda intensidade possível, o sentido mais amplo e bonito da palavra adaptação!
Elas elevam o seu significado, pois além de se adaptarem às atividades diárias consideradas mecânicas pra quem não tem uma deficiência, se adaptam acima de tudo aos olhares atentos ( ora curiosos, ora piedosos) e à falta de paciência de uma sociedade imediatista e intolerante com quem não é igual a si (curioso que ninguém é! ).

RESILIÊNCIA: UM INGREDIENTE MAIS QUE ESPECIAL

Resiliência na psicologia diz respeito à capacidade do ser humano lidar com seus próprios problemas, vencer obstáculos e conseguir dar a volta por cima, seja qual for a situação que esteja passando.
Crianças com necessidades especiais passam por uma adaptação diferente: é uma adaptação extremamente resiliente.
Penso que essa palavra traduz muito da história dessas crianças (e das
famílias) que precisam se encaixar em um mundo que infelizmente não foi
pensado pra elas.


É ser fênix todos os dias, é se reinventar, se descobrir, testar e ultrapassar
seus limites (ou simplesmente a ideia de que eles existem).

LIÇÕES DE VIDA: PARECE CLICHÊ, MAS É A PURA VERDADE

Não é raro ouvirmos os pais e familiares dizendo que conviver com tais
crianças, traz um enorme aprendizado: paciência, persistência, perseverança, tolerância, empatia.

São lições valiosas que, infelizmente, estão caindo em desuso nos dias atuais.
A tecnologia cada vez mais avançada aumenta nossa impaciência e diminui
nossa persistência: pra que esperar 2 minutos pra baixar um download: é
tempo demais! Pra que tentar se adaptar a algo diferente se eu posso comprar um mais fácil? Pra que escrever uma carta ou recado se eu posso mandar um whatsapp?
Empatia e tolerância nem se fala! Também são palavrinhas em falta nos dias atuais: colocar-se no lugar do outro, pensar como deve ser sentir-se e ser assim, tolerar o que é diferente de mim, respeitando, aceitando e procurando entender essa diferença não como algo ruim e sim como uma característica individual.
Muitas vezes pra nos desenvolvermos e crescermos enquanto seres humanos, precisamos de obstáculos e desafios. A zona de conforto nos estabiliza, nos deixa estagnados.

E é essa adaptação resiliente - sem dúvida marcada por muitos desses
obstáculos, frustrações e decepções, mas também por conquistas diárias – a protagonista nas histórias aqui contadas.

Não é só uma palavra no dicionário: é uma forte aliada e companheira neste caminhar!

Psicóloga Mariana Oliveira Reis
CRP 06/135.789


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